MENTIRAS CONVENCIONAIS DA NOSSA CIVILIZAÇÃO

MENTIRAS CONVENCIONAIS DA NOSSA CIVILIZAÇÃO

Na época do regime militar, o obscurantismo predominou no meio cultural brasileiro. Qualquer livro que tratasse de política e, principalmente, de questões sociais, tinha que ser lido às escondidas, como se fossem verdadeiras batatas quentes na mão do leitor, pois a repressão era ferrenha, e todo cuidado era pouco. Tudo era interpretado como ameaça ao estado de coisas vigente. Eu participava de um grupo de pessoas que se reuniam para estudar obras de cárater socialista, mas sem nenhuma intenção de sermos ativistas. Apenas queríamos conhecer outras óticas do pensamento social, diferentes do que presenciávamos no Brasil de então. Estudamos vários livros, lembro de poucos ( 18 Brumário de Napoleão, A Praxis, uns dois ou três de Maximo Gorki), mesmo porque minha participação era bem pouca devido estudar engenharia , os outros faziam faculdade de Filosofia, Sociologia, etc. Não sou atraido por questões políticas mas muito interessado em saber como evolui a nossa sociedade, que criou tantos mitos, ideologias, religiões, hábitos, costumes, cerimoniais, rituais, e como o indivíduo é atingido por tudo isso. Principalmente por que existem tantos privilégios onde todos deveriam ser tratados exatamente da mesma maneira. Privilégio quer dizer lei particular, ou privada, ou individual, uma regra que só vale para aquele indivíduo ou grupo de indivíduos, diferente da lei estabelecida no código penal. Vivemos em uma sociedade que a distorção de valores é a característica mais gritante. E pior, estamos tão “domesticados” com esse estado de coisas que ninguém questiona o porque os que tem mais são os mais privilegiados. Entenda-se aqui “mais” como qualquer valor da nossa sociedade, que está muito longe de ser igualitária.

O livro que mais despertou meu interesse, na época, foi “AS MENTIRAS CONVENCIONAIS DA CIVILIZAÇÃO”, do filósofo húngaro Max Nordau, não só no que se referia a Política como também diversos outros aspectos da sociedade humana. Li e reli várias vezes, e foi umas das leituras mais interessantes que fiz. Pesquisando na Internet, achei comentários do Desembargador Renato Nalini sobre a obra que marcou uma época em minha vida.

Abaixo, alguns trechos do livro, escrito no final do século XIX, de uma atualidade notável:

• Governar é cumprir a lei. Julgar é dizer o que a lei quer, se as pessoas se desentendem.

• : “O que é para o deputado o interesse geral e o bem público? Mero negócio de comédia: o deputado quer subir e o eleitor tem de servir-lhe de estribo. Trabalhar para o povo? Besteira! O povo é que deve trabalhar para ele. Apelidam os eleitores “gado que vota”: essa metáfora é de rara exatidão… gado metafórico que no dia da eleição deposita a cédula na urna”. Hoje, digita eletronicamente sua vontade.

• : “O político não tem outro fim nas suas ações senão o gozo de seu egoísmo. Para aí chegar, deve obter o apoio da massa. Ora, não se obtém esse apoio senão à força de promessas e das tradicionais palavras de sensação que recitam tão maquinalmente, como o mendicante o seu Paster Noster. O político submete-se a esse uso sem hesitar. Desde que eleito pelos eleitores, o seu amor próprio fica satisfeito e a massa desaparece completamente de suas vistas para surgir de novo quando o ameaçam de lhe tirar o poder. Então fará o que for necessário para conservá-lo, como fez antes para obtê-lo. Conforme as exigências da situação, ele dobrará de novo a enfiada das promessas e das frases de sensação ou ameaçará com o punho aqueles que murmurarem”.

• “Os eleitores não conhecem o indivíduo, nada sabem de seu caráter, se tivessem que emprestar-lhe por algumas horas uma chaleira velha, informar-se-iam dele certamente melhor; no entanto, confiam-lhe os maiores interesses do Estado.”

Mentiras convencionais

José Renato Nalini é Desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de “Ética Ambiental”, editora Millennium. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br. 06/02/2011 por Renato Nalini

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 13/08/2016
Reeditado em 10/04/2020
Código do texto: T5727218
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