Você me conhece?

- Mãe, qual a minha cor preferida?

- Humm... azul, certo?

- Errado. O certo seria preto.

- Qual o meu prato favorito?

- Pizza?

- Errado. Tiras de filé mignon com pimentão ao molho madeira.

- Mãe. Por acaso você sabe me dizer qual é o meu maior sonho?

- Léo, pra que tanta pergunta menino? Você por acaso virou jornalista foi?

- Não mãe, não virei, mas foi um dos meus sonhos um dia. Você saberia se fosse mais presente, prestasse mais atenção em mim sabe?

- Cala a boca Léo, você só fala merda. Que coisa é essa agora de que eu não sou uma boa mãe menino? Sempre lhe dei de um tudo, tanto pra você quanto pro seu irmão. Sempre trabalhei e me esfolei toda pra dar casa, comida, brinquedo e conforto pra vocês dois e é assim que você me agradece? Você e seu irmão são muito mal agradecidos isso sim.

- Sabe mãe, eu sei de todos os seus esforços e dos seus sacrifícios para criar dois filhos sozinha, sem ajuda de ninguém, sem marido, sem família, sem dinheiro... mas sabe do que eu mais sinto falta?

- O quê?

- Uma amiga. Alguém que eu pudesse confiar, que estivesse sempre presente, uma pessoa que entendesse todas as minhas lamentações e me abraçasse quando eu estivesse triste. Entende?

- Você já falou merda de mais por hoje, não acha não Leonardo?

Um suspiro pesado, olhos marinados e um aceno positivo com a cabeça...

- É, mãe... talvez eu tenha falado de mais mesmo.

Léo passa diante de sua mãe cabisbaixo e sobe para seu quarto. Tranca a porta, seca as lágrimas, caminha em direção a sua cama e se ajoelha em sua frente, tentando alcançar algo em baixo dela. Ele então alcança uma garrafa de Vodka e a leva de encontro ao seu peito. Escorado em sua cama, Léo abre a garrafa, toma um grande gole. Os pensamentos voam. As lágrimas caem. O coração se comprime. Os sonhos mais uma vez são assassinados a golpes de decepção.