PLATÔNIO QUER A FLOR 6
PLATÔNIO QUER A FLOR 6
E as criaturas da noite
de aparência inviolada
não tem sonhos nem pesadelos
são futuros estranhos nada perdem
continuam morrendo
eu queria morrer agora
acordar vagando pela noite
a noite sendo minha inteira
devassidão permanente
eu entrarei em contato no quarto
ao lado perfurando as estrias
das paredes que parecem
inteiramente frias indecentes
daqui de longe tudo me incomoda
quem entra quem sai que permite
chegar perto dela
Kafka não perdoa o deambulo solitário
ele precisa sair do marasmo
quando tudo era humano
tinha uma leve sombra fácil
o distúrbio do fenômeno que antes via
a fábula do bom sujeito
dando o que comer ao triste fim da carne
nada perturbava meus sonhos
nem os sonhos entravam
em decadência
tudo no contrário do mundo
que conhece a vantagem é violento
perdi a essência agora descobri-me
doente e necessário ao vicio da cena
dos citadinos que precisam
do espelho invertido pra sentirem
o ar mais brando saindo dos bueiros
ela persegue de olhos atentos
o movimento que faço pra sair
de onde estou
primeiro sintoma do personagem
maldito assombra não sou mais
alguma coisa jogada no chão
o destino quer me enfrentar
eu ensinei a ela um desejo fraco
um desejo distante
aquilo que provoca anseio
cria desespero nasce áspero
destrói o convite corrói por dentro
torna vivo o inimigo da vontade
eu consegui o que queria
agora posso tê-la perdendo
minha própria vida
ela não tinha razão?!
MÚSICA DE LEITURA: Ty Segall - Connection man