A PALAVRA INEXPRESSIVA

Atordoado, o poeta labuta com mil pensamentos fustigantes. No afã de se expressar com a mais perfeita obviedade ele preenche o seu tempo. A palavra é seu alimento, é o objeto que mantém acesa a chama da alma. A faculdade de se comunicar, inerente à criatura humana, suscita variadas observações.

Com a versatilidade própria da criatura humana ele consegue desenvolver diversas formas de expressar os sentimentos, de conceber modelos e de destacar formas cujas variantes se espraiam pela comunicação.

Há um desejo latente de emitir expressões que revelem com fidelidade seus anseios, sentimentos, impressões do mundo.

A partir do momento em que foi criada a grafia as expressões passaram a ser efetuadas através da palavra impressa. Entretanto, o poeta ainda sofre entre estertores e angústias ao perceber que seus desejos nem sempre são satisfeitos quando pretendem exprimi-los. As sensações são tão viscerais que se tornam impossíveis de empurrá-las totalmente para dentro da sensibilidade do leitor.

Quisera o poeta fazer com que o leitor se sinta tocado pelo mesmo sentimento que ele o faz quando imprime as palavras. Se pelo menos um considerável percentual desse intento for conseguido o poeta já pode se considerar um vitorioso.

Autores correm tresloucadamente em busca de leitores. Entretanto, a versatilidade, a objetividade do texto, a sagacidade do autor, em conjunto com a importância do veículo, é que vão indicar a intensidade do consumo da palavra escrita. Isso é o que têm observado algumas revistas do ramo da crítica literária.

De modo geral, os leitores correm em busca de textos significativos e, por consequência, grandes autores como Flaubert, Joyce, Balzac para falar de clássicos universais, bem como Machado de Assis, Lima Barreto, Guimarães Rosa.

Expressar-se literalmente é uma arte das mais complicadas. Comunicar-se com clareza é um torturante enigma. Requer uma enorme capacidade de fixação episódica e de reflexão acerca da realidade que norteia os aspectos universais, de um mundo real, em contraposição com um mundo virtual. Esses fatores vão desde as nuances socioeconômicas, culturais até as ideias mais remotas. Portanto, para explorar as peripécias mais sutis há que se lançar mão da argúcia de um detetive.

Aliás, fazer uma releitura do mundo não é tão simples. Envolver o leitor e conquistar sua sensibilidade, com efeito, é não menos complicado. Mas o poeta deve ser intrépido e arguto e se lançar nessa arriscada porfia como um desafiador toureiro.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 20/08/2016
Reeditado em 20/08/2016
Código do texto: T5734078
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