Eu sei que vou te amar

EU SEI QUE VOU TE AMAR...

Para quem escreve todos os dias, os artigos e as crônicas veiculados em jornais e revistas têm na sensibilidade dos leitores como que uma caixa-de-ressonância. Frequentemente recebo, seja por telefone ou e-mail o feedback dessa ou daquela matéria, bem como solicitações no sentido de escrever ou desenvolver determinado assunto.

Pois, numa dessas, escrevi aqui um tema romântico, “O beijo”, recordam? Ah quanta gente ligou dizendo que gostou, que recordou isto ou aquilo, que eu fico melhor no romance que na crítica política. Quem bom se a vida fosse só poesia. Pois eu pensava no que escrever quando meu FM tocou “Eu sei que vou te amar” com Maria Creuza. De fato, esta música embala gerações de românticos há quase meio século. Composta em 1958, ela animou meu começo com Carmen (cantada por Agostinho dos Santos). Até hoje, quanto toca, nos olhamos, dizendo muitas coisas em silêncio. Tudo começa com uma declaração de amor eterno: “Eu sei que vou te amar, por toda a minha vida...”

Ora, quem se dispõe a ingressar na grande aventura do amor, deve fazê-lo com a disposição de torná-lo grande, crescente, eterno. Sem essa – como se enxerga por aí – de começar já com o olho na porta da saída, dizendo que “a fila anda”.. Amor é sinônimo de eternidade. Se acabou, nunca foi amor... Por isto a poesia decanta esse desejo: “E cada verso meu será prá te dizer: que eu sei que vou te amar, por toda a minha vida...”. Mesmo assim, sabe-se, nem sempre as coisas dão acerto, e às vezes acontecem rupturas, onde um sai mais ferido que o outro: “eu sei que vou chorar, a cada ausência tua...”, o que não deixa de evidenciar que houve um amor, mas que coisas mais fortes impediram-no de se manifestar.

Como na vida existem tantos desencontros, há casos em que, mesmo na separação, persiste o amor. Mas fazer poesia não é lamentar a dor, mas expectar o encontro, preparar a chegada, manter o que de bom existe: “mas cada volta tua há de apagar o que essa ausência tua me causou...”. Recordo que, na adolescência, a gente brigava com a namorada, mas depois, na reconciliação parecia que as coisas ficavam melhores, mais intensas.

Amar em cada despedida é antegozar a alegria do reencontro; é saber que a escuridão dura apenas uma noite... e que a luz supera as trevas. O bem atual sempre supera o mal anterior. Quando o amor reata e reaproxima, aflora o desejo de perenidade em quem não quer mais sofrer a dor da solidão, da incerteza e da insegurança: “a espera de viver ao lado teu, por toda a minha vida...”. Quem não gostaria de receber um “eu sei que vou te amar...” como uma súbita declaração do amor, da parte de alguém?