Leia Steinbeck

Até hoje, nenhum escritor me emocionou mais do que o americano John Steinbeck. Nem Goethe, com Werther, ou Mann, com A Montanha Mágica, causaram em mim o abalo emocional que Steinbeck, com As Vinhas da Ira, causou. Talvez por a tragédia humana ser mostrada nesta obra por um olhar que foca mais a família do que o indivíduo, mais a sociedade oprimida do que a sociedade doente. Como García Márquez em Cem Anos de Solidão, principalmente, porém com um realismo mais cru, direto e sem alegorias. Embora eu também ame a obra do colombiano.

Sou mais sensível ao drama que envolve a quase sempre dura realidade de uma família, quando esta se vê unida pela dor, pelas perdas e privações, por uma visão de felicidade comum que está fora do alcance. Quando o indivíduo se dá conta de que a vida em regra é um sofrimento, é mais fácil simplesmente não levá-la tão a sério, escarnecer de si mesmo e da realidade. A mesma atitude não cabe a uma família em condições semelhantes, a resignação não se dá tão facilmente. E a história da família Joad, das Vinhas da Ira - que você tem que ler, traduz essa irresignação da forma mais bela que alguém poderia conceber, em um contexto social distante, mas ao mesmo tempo próximo a nós, brasileiros do século XXI.

Mas o livro de Steinbeck que mais recomendo aos amigos, de densidade menor mas de beleza comparável às suas obras primas, é Os Boêmios Errantes, deliciosa história de farsas e amizades - que você tem que ler, onde amigos pobretões e malandros dividem uma pequena casa e vão recrutando novos conhecidos para morarem juntos, desde que estes contribuam para o orçamento doméstico. Um divertido jogo capitalista implícito sob um discurso de companheirismo e lealdade.

Para quem ler e gostar de As Vinhas da Ira, eu sugiro que procure Ao Leste do Éden, outra obra sensacional do escritor americano, que muitos consideram ainda melhor do que o primeiro referido. Para quem amou Os Boêmios Errantes, recomendo que busque A Rua das Ilusões Perdidas, que segue as linhas cômicas, boêmias e errantes do outro.

Steinbeck quase sempre acerta na veia, e qualquer um desses que citei, além de Ratos e Homens, A Pérola, O Vale Sem Fim, de contos, entre outros, vale a pena ser retirado das prateleiras - da livraria ou da biblioteca, e levar pra casa. Não vale é passar sem ler este grande tradutor da lúgubre condição humana.

Andrei Andrade
Enviado por Andrei Andrade em 21/07/2007
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