O QUE NUA FIQUEI DE SURPRESA

O QUE NUA FIQUEI DE SURPRESA

Não me envergonhe no ato de usar

das coisas que tem sempre o que convém

desnudar-nos entre os outros

coisas que temos em comum lá em casa

lá em casa somos dois perdidos

éramos dois amigos em fim

brotou um lugar terminando com tudo

que separava espíritos convencidos

de que a solidão ensina a viver

caso alguém viva

de vida perde-se crendo na esperança

que convence de ser ao menos

alguém entre tantos porém

não queira estar amigo disso

e resolva me deixar aos prantos

por dentro rindo disfarçada

do que parece então oferece

um não pra o que não vejo

são coisas rasgadas cruas passadas

desbotadas como as palavras saídas

minhas amigas não vieram de longe

de tão longe pra divertir um íntimo

que a mostra do fino sensível

torna oco um encontro qualquer

deixa-me impassível preferindo

não ter vindo de jeito nenhum

não por ser mulher

mas por ser tua esposa

não por querer te dizer como é

mas a lousa que ousa descrever-te

com rabiscos termina comigo

nós viemos na socialite dos termos

havia um convite preso na porta

não estamos entre os hippies

havia algo escrito no papel de marchê

tão belo que parecia natural

tramado feito uma flor que se abria

e o animal aflora por que cria

uma ideia somente sua

de como deva ser uma mágoa

que ressente será bem vinda

de manhã quando acordarmos

teremos muito a falar sobre

o que nua fiquei de "surpresa".

MÚSICA DE LEITURA: Billie Holiday- stormy Blues