MIGALHAS DE PÃO

Quando cheguei aqui em Nova Iorque, em comecinho do mês de maio, a primavera estava exuberante. Ela se foi, e deu lugar ao verão, que tem deixado os poentes ainda mais belos, com seus tons de terracota. O dia está mais longo, escurecendo perto das nove horas da noite.
Quase todo final do dia tenho levado migalhas de pão amanhecido para as aves que ficam no pier, tem muitos pássaros, pombas, gaivotas, além dos patos selvagens. Me sento em um banco, abro o pacote com as migalhas, e logo estou rodeada de aves, como diz meu filho: "Mãe, a senhora parece com aquela personagem do filme "Esqueceram de mim", que vivia para alimentar as aves do parque". 
Já meu netinho tem se divertido muito com essa tarefa de alimentar as aves, e assim que chega da escola, me diz: "vovó Lena, vamos levar pãozinho para os pássaros, eles estão com fome, a mamãe deles, não tem comida". 

Com esse hábito diário, creio que, já fiz muitos amigos por aqui. As aves, só não gostam quando percebem que acaba a cota de pão, que lhes trouxe, aí começam a gritar a todo pulmão, como a protestar.
Meu marido acha graça, e diz, que sabia que, eu ia arrumar de quem cuidar por aqui também. Quando estou em minha casa em São Paulo, toda manhã tenho compromisso com os pardais, sanhaços, Bem-te-vis, sabiás, e às vezes algumas maritacas, que me esperam em cima dos galhos da sibipiruna do jardim, ou no muro do quintal, para se alimentarem com as bananas e mamões, que lhes ofereço.
Aqui, em Nova Iorque, tenho observado, que dentre os patos selvagens, (há dezenas deles, por aqui, nessa época do ano) um deles se destaca pelo seu tamanho bem maior que os demais, não sei se é o único macho do grupo, só sei que é bem desconfiado, e foi o único que não aceitou, até agora, as migalhas de pão que ofereço. Fica a me encarar, muito sismado, me segue com o olhar, mas não se aproxima.
Vamos ver até quando ele resiste. Ainda demora para eu ir embora, e até lá, quem sabe, ele baixa a guarda, e aceita minha oferta de amizade.  
Reconheço que meu marido tem razão, já achei meus amigos com asas, aqui também. Isso mostra que  tenho facilidade em me adaptar, e encontro sempre um jeito de interagir com a natureza à minha volta.
E a natureza daqui é tão bela quanto a de lá. Nem podia ser diferente, tudo que existe no planeta foi pintado pelo pincel mágico do Grande Artífice.



(imagem: Lenapena - Poente no East River)
Lenapena
Enviado por Lenapena em 29/08/2016
Reeditado em 29/08/2016
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