NÃO SOU FRIA AO QUE PARECE

NÃO SOU FRIA AO QUE PARECE

Não seria uma atitude perversa

essa de amar-se sozinho no escuro

assim vendo um vídeo tornado

de dentro p'ra fora uma vida adultera

sem motivos

eu acabava meus encontros

de outra maneira quando havia

um crime a ser cometido entre nós

quando ele queria mais de mim

eu entregava meu prazer

aos sonhos e as novelas de núpcias

com o desatino convite a um talvez

não por ser indomável tinha outro

e quantos podia ter de consolos

guardados que as vezes

tinha vontade de incendiá-los

podendo cair nas tentações de quem

fala por que não tem alma

não teria outra maneira de dizer

ter por retorno todo prazer dos mortais

e ser igual ao retorno p'ra casa

venci meu animal por bem

que ele esteja dormindo

não é uma calma agradável

parecendo um oásis melhor mastigado

mas pelo menos teria um gosto

do que imagens feitas

ensaios de receitas num domínio criado

um "por favor" queira ver nossos corpos

nossos olhos como fico numa cena

quente tendo tua frieza de longe

ele continuava disparando refluxos

soluços suspiros cada hora

que eu entrava ainda de camisola

nunca sendo uma cobra devorando

seus pés salivando a pele até o fim

que por sinal estava erguendo

uma vontade que é tão perversa

quanto essa de falar do que eu desisto

eu acredito que fui sempre fria

não tivemos nenhum filho

sempre tomei conta dos remédios

e o tédio te abala confuso

que faço numa cama esperando

talvez amando-me ela recusa essa

péssima vulgaridade de ficar me olhando

vendo todas elas com meu rosto

n'outro corpo que o afago por cuidado

deixa-me respeitando silenciosa

quando deito sem jeito e o efeito

tarda na mesma hora que ele

já está farto dormindo

e a varanda me acompanha

naquilo que consegui acender

sobre os lábios restando não chover

por que eu mentira

porque eu não sou repito não sou fria

indagava olhando ele completamente

nu devolvendo sua resposta

pela ficção que fica posta distante

que inicia outra mulher

uma mulher em desequilíbrio

remoendo aquele abuso de por nuvens

de fumo nas cortinas de fumaça

olhando o relógio esperando ele acordar

pra dizer...

...tudo bem?

MÚSICA DE LEITURA: Billie Holiday - Stormy Blues

João Marcelo Pacheco
Enviado por João Marcelo Pacheco em 01/09/2016
Reeditado em 01/09/2016
Código do texto: T5746529
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