Um maniático

Tenho tantas manias que mal poderia lembrar das mais importantes para organizá-las e comentá-las neste texto. E quem não tem as suas? É importante saber diferenciar o que é simples mania do que já virou doença, vício, paranóia, síndrome, trauma, superstição, etc. É o que estou tentando fazer. Neste exato momento, um pouco eu escrevo, um pouco leio artigos espalhados pela Internet sobre estes transtornos maniáticos. Pois é, se não tentamos dominá-los, nos escravizam.

Das manias que acumulo, a mais antiga e perene é a de nunca finalizar qualquer atividade. Desde aquelas mais comuns, como sempre deixar o último par de wafers no pacote, até as tarefas domésticas, como lavar a louça e recolher a roupa. Sempre sobra uma peça no varal ou um prato na pia. Também já li muitos livros até o penúltimo capítulo e depois os devolvi à prateleira. Chego até o ponto de infalivelmente deixar uma unha do pé por cortar, por pura preguiça de finalizar o serviço. E mesmo meus textos, me parecem sempre inacabados, faltando a frase final, mas os publico mesmo assim, por mera força do hábito.

O mais embaraçoso de meus transtornos é o de não conseguir falar com alguém que esteja a minha esquerda, sem que haja um outro alguém a minha direita. Se estivermos caminhando, você, leitor, e eu, lado a lado, saiba que só haverá diálogo se eu estiver do lado esquerdo. Você à direita. Caso contrário, ficarei inquieto, falando de forma confusa, frases muitas vezes desconexas. Com educação, pedirei para atravessar a sua frente a fim de me postar à sua esquerda, para que possamos conversar normalmente.

Não consigo ler ou escrever com relógio de parede por perto. O tic-tac dos ponteiros tira toda minha concentração. Não consigo escovar os dentes com a torneira da pia fechada, simplesmente não consigo. Se vou comer arroz e feijão, meu prato é exclusividade do arroz e do feijão, não entra mais ninguém. Se resolver comer outra coisa, só trocando de prato. Anotar alguma coisa na aula? Só se as dezenas de listas "top 10" do meu caderno abrirem espaço para novas formas de conhecimento. Nos anos de ensino médio eram as letras de música traduzidas e as escalações completas de times de futebol, e no ensino fundamental eram os desenhos e os jogos-da-velha e afins. Os hábitos se renovam, mas a mania é a mesma. Prestas pouca atenção no que é dito em aula.

Ter boas manias e cuidar bem delas é tão necessário quanto cultivar as boas amizades, ver os bons filmes e ler a boa literatura. Elas estarão conosco até o fim da vida, às vezes com o simples propósito de estabelecer laços com o passado, de trazer lembranças como “faço assim desde pequeno”, ou “minha mãe sempre achou isso estranho”. Ao mesmo tempo em que são nossas maiores particularidades, as manias são também o que nos tornam tão parecidos uns com os outros, pois costumamos nos reconhecer nos hábitos que percebemos nos outros. E as manias são os hábitos que repetimos com maior freqüência. Portanto, tenha sempre bons hábitos, que suas manias serão um grande barato.

www.andreinews.blogspot.com

Andrei Andrade
Enviado por Andrei Andrade em 22/07/2007
Código do texto: T575002