BENEDITO MERGO LIÃO
NO TEMPO DAS VACAS GORDAS
Só agora vindo a lume O Espêto, por isso mesmo, jamais se meteu em alhures... Entretanto, a matéria de que é formado nunca deixou de experimentar os sofrimentos do povo nem se furtou ao desprazer de, com a eterna vítima, amargurar nas intermináveis filas da banha, do açúcar, do leite...
Como se vê, com tais padecimentos, embora, um neófito, já era grande O Espêto.
Isto vem a propósito do ruidoso caso do leite, que, de tão sujo, se tornou azedo, pois, segundo os jornais, os ditadores da CEL sonegavam ao ludibriado povo carioca o mais cândido dos alimentos – o leite – e o revendiam aos magnatas espertalhões do câmbio negro, enquanto a população se desmilinguia na fila, com os olhos fitos no romântico “slogam” do “Beba mais leite”...
Felizmente, deito-lhes a mão a polícia, para gáudio de todos nós.
- Que “deleite”!
Entre os estrategistas do avanço à bolsa do pobre – descobriram as autoridades – figurava o nome do químico José Pereira “Mouco”, que, à grita popular, fazia “ouvido de mercador”, condenando o leite para “mamar” com a quadrilha.
Mas o delegado Paula Pinto, que não é “irmã” Paula, nem “galinha morta”, resolveu chamar a turma às falas.
Nunca o “Mouco” pensou ouvir tanto...
Isto se Du vai por muitos meses; mas convém ser lembrado, para a imprensa diária – principalmente A Notícia – não se esquecer de indagar em que pé está o processo, pois casos como esse do leite costumam morrer com o Pão de Açúcar em cima, por, geralmente, interessarem a gulosos piratões da polícia...
Autor: Nestor Tambourindeguy Tangerini
Com o pseudônimo Benedito Mergo Lião. Revista O Espêto, p. 4, 15 de abril de 1947.