POR QUE É QUE TODO MORTO VIRA SANTO?

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Sábado, 17 de Setembro de 2016

Às vezes faz-se necessária uma certa prática da contradição. E, de certa forma, costumo estar quase sempre na contramão das coisas que se discutem nesse nosso cotidiano. Essa assertiva contém um certo contraditório. Mas faz parte.

Nem gostaria de abordar o assunto da morte do ator Domingos Montagner. Não que seja indiferente a uma tragédia como essa, claro. Mas pelo exagero e oportunismo que se emprega numa ocasião dessa, onde quase sempre força-se uma barra além daquela em que se poderia ficar.

De tudo que li, vi e ouvi, não necessariamente nessa ordem, o que aconteceu nesse episódio, pode ter sido causado por um mau súbito do ator, haja vista que ele havia acabado de almoçar e mergulhou no rio. É óbvio que não me arvorarei em perito para definir tal acontecimento. E quando aluno, lá nos tempos do Científico, abordei o professor de ciências, sobre o risco de uma pessoa com o estômago cheio, mergulhar na água ou até mesmo tomar um banho.

Ele prontamente explicou-me que cada pessoa possui uma característica física que define e determina certas circunstâncias que nos envolvem. Isto implica dizer que há pessoas que podem executar tais ações, sem o risco de sofrer algum dano físico. Mas, de outro modo, outras podem apresentar reações contrárias, podendo passar por um mal súbito, sim. E nesses casos há um deles que chamam de "congestão".

No entanto, apesar de ter ouvido dizer que ele havia acabado de almoçar e mergulhou, contudo não houve registro de tal reação nele. Ele afogou-se devido a forte correnteza do rio naquele local. Vida que segue.

Mas com relação ao segundo parágrafo desse conteúdo, tenho que registrar uma fala da atriz Dira Paes, numa reportagem na Rádio CBN-Rio, onde disse que a morte do ator representará uma simbologia muito forte na relação da situação de destruição daquele rio. E que ele é um "símbolo da vida" e vai representar isso para sempre.

Ora, gostaria de poder ouvir a mulher e os parentes do falecido. Eles, por exemplo, nunca mais quererão escutar falar ou dizer sobre o Rio São Francisco.

Até, com certeza, ainda quererão que o rio seque de vez. Por que foi ali que a desgraça os alcançou, levando a vida de um de seus entes mais queridos.

Eis aí uma das contradições da vida. Como é que uma pessoa, no caso a Dira, vai fazer tal colocação? Como pode uma pessoa que perdeu a vida absurdamente, representar "símbolo de vida" para alguém? É, sim, numa circunstância como essa, apelar demais. E de forma equivocada. Penso que ela perdeu uma grande oportunidade de ficar calada, isto sim.

Mas o pior de tudo, numa ocasião de morte de alguma celebridade, a unanimidade transformá-lo num "santo", pedindo desculpas pelo trocadilho em relação à novela em que ele atuava. Onde só apontam suas virtudes e nenhuma de suas falhas. É assim que vejo um absurdo tremendo numa hora dessas. Não há a necessidade de exageros, tampouco de fazer apologias desnecessárias. O pior já aconteceu, e devemos passar logo por cima disso, seguindo em frente, porque à toda hora da vida morre gente. Famosa ou não.

Aloisio Rocha de Almeida
Enviado por Aloisio Rocha de Almeida em 18/09/2016
Reeditado em 18/09/2016
Código do texto: T5764414
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