BONS FLUÍDOS

Era uma vez uma chaleira de tampa azul...

Impossível não me recordar dela em cima do fogão
Mamãe ia fazendo o almoço e colocando água quente
no arroz, feijao, abobrinha...no molho de tomate, na
na vagem, cenoura, beringela...
Quando alguém tinha cólicas, lá ia mamãe, esquentar a água para colocar na bolsa de água quente.
Nossa, como era bom o calorzinho dela na barriga
quando a dor nos maltratava.
Ia esquentando e melhorando o desconforto daqueles dias...rs
Aquela chaleira era algo imprescindível em nossa cozinha, junto às panelas grandes em que minha mãe preparava a comida para nove ou dez pessoas todos os dias...
Uma família grande, onde seis meninas iam se tornando mocinhas e começando a pensar em suas vidas e profissões.
Papai era um homem tranquilo, vivia bem com minha mãe,ele a amava muito e não tinha muitas vaidades.
Gostava de tirar uma soneca no domingo e ler jornais.
Ajudava minha mãe em algumas tarefas e sempre era ele quem passava os figos verdes nos cacos de telha para tirar a penugem e mamãe fazer doce no Natal.
Ele fazia assim: pegava um saco de pano que mamãe
fizera só para isso e colocava dentro os cacos de telha
e os figos verdes. Então fechava bem e ia esfregando
as mãos em cima dos cacos e figos até ficarem 
lisinhos...
Os pêssegos também era ele que descascava com 
enorme paciência...
Mamãe era uma mulher super dinâmica, fazia muitas coisas ao mesmo tempo.
Cozinhava, dava aulas de piano, fazia muito crochê e ainda costurava para nós e algumas freguesas.
O tempo foi passando e nós nos tornamos adultas e elesficaram idosos..
As seis filhas se casaram e deixaram aquela velha e grande casa. Meus pais reolveram vendê-la e ir para uma casa  mais nova, que não precisava de reformas.
Fizeram a mudança e a chaleira continuou em cima do fogão que era novo e azul  também, como a tampa da chaleira.
Vieram os netos, a trabalheira de todos para cumprir
tantas obrigações, as festinhas de aniversário, as audições de piano de mamãe...
A chaleira lá estava, quando a ajudante de mamãe, começou a tomar conta da cozinha, fazendo a comida para meus pais
e algum neto ou neta ou filha que iria almoçar lá naquele dia...
E assim a vida passou, papai se foi vitimado pelo câncer, mamãe teve que deixar a casa, vendeu-a e foi morar com minha irmã.
A chaleira ficou esquecida com água em baixo do armário da pia, na casa de minha irmã, até que eu comentei com  ela que a chaleira de minha sogra havia furado e minha cunhada ia comprar outra para ela aquecer água p levar até  meu sogro que é inválido fazer a barba.
Minha irmã então se lembrou da velha chaleira, e me disse que eu poderia doá-la para minha sogra. Fiquei alegre demais!
Saber que a chaleira iria novamente ficar em cima de um fogão!
Então meu marido pegou a chaleira e limpou-a bem, ficou novinha...levou para a casa da mãe dele e ela adorou, porque era antiga como a dela e ainda tem a tampa azul! rs
Minha mãe que faleceu em março deve estar feliz lá no céu sabendo que a chaleira levará os bons fluidos de uma vida inteira de amor e felicidade que passamos todos juntos.

Era uma vez uma chaleira de tampa azul...





               
Adria Comparini
Enviado por Adria Comparini em 18/09/2016
Reeditado em 18/09/2016
Código do texto: T5764814
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