O SACRISTÃO EM APUROS!

Sinval desde criança sempre foi muito chegado à Igreja. Nas aulas de catecismo era o mais interessado.

A anunciada saída do Padre Luiz da paróquia, muito entristeceu o garoto que nutria por ele grande amizade. Os pais do garoto ficaram muito alegres quando o Padre manifestou o desejo de levar o Sinval para estudar em Intendentes, cidade que seria a nova paróquia do Padre Luiz, e que possuía um bom colégio, no qual o Sinval poderia estudar.

Tudo deu certo. O Sinval foi matriculado na nova escola e nas horas vagas servia de sacristão. Ajudava em todos os ofícios da paróquia, principalmente quando o Padre ia celebrar nas comunidades da zona rural. Nesta ocasião o Sinval preparava tudo: paramentos,campainha,vinho e outras coisas que seriam utilizadas nas celebrações.Colocava tudo em uma maleta, e nem precisava do Padre conferir se estava faltando alguma coisa.

Pois bem. Numa dessas visitas a uma comunidade,onde o Padre iria celebrar uma missa,tudo aconteceu como de costume: a viagem, a recepção ao Padre, a preparação do altar.Tudo em ordem.

Iniciada a celebração, o Sinval foi à sacristia para buscar o vinho que seria usado na missa. Foi um grande susto quando ele abriu a maleta e verificou que o havia esquecido.

E agora? Como fazer? O Sinval sabendo que o Padre não iria perdoá-lo, não quis comunicar-lhe o que estava acontecendo. Depois de muito meditar chegou à conclusão de que teria de comprar um vinho ali na comunidade. Será que encontraria vinho no único boteco que ali existia?

Resolveu arriscar-se. E o dinheiro para a compra? Ele não havia levado nenhum... Então lembrou-se de que em um altar lateral, onde ficava uma imagem de São Vicente, existia um pires com algumas moedas. Naquele tempo em alguns momentos o Padre ficava de costas para os fiéis. Ele aproveitando desta situação aproximou-se do altar e pegou algumas moedas. Passou um pouco de aperto, pois quando estava para pega-las, uma velha começou a olhá-lo e ele teve que devolver as moedas, como se estivesse dando uma esmola para o santo.Quando a velha passou a prestar atenção à missa,ele cumpriu o intento.

Com o dinheiro no bolso, o nosso sacristão correu até ao boteco para efetuar a compra. Lá chegando teve que convencer o dono a vender-lhe um pouco do vinho e colocá-lo em um vidro, embalagem do medicamento Biotônico Fontoura. O vinho era de jurubeba, de péssima qualidade.

O Sinval correu para a capela, e na sacristia, colocou o vinho na galheta. Foi tudo em cima da hora, pois o Padre já estava acabando o sermão.

Na hora do Padre tomar um pouco do vinho, ele só olhou para o sacristão e balançou a cabeça, como a dizer:- Você me paga!

Pelo que me disse o sacristão, após a missa o Padre só faltou chamar-lhe de “santo”, como se diz por aqui. Proibiu-lhe também de ficar um mês sem ir ao cinema, que era a diversão preferida do Sinval.

Calambau , 11 de setembro de 2016

Murilo Vidigal Carneiro

PS: Fato ocorrido com um conterrâneo nosso. Os nomes mencionados, bem como o da cidade são fictícios ou quase.O personagem principal me passou este acontecimento,mas é aquela história:-“Quem conta um conto,aumenta um ponto...”.

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 20/09/2016
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