Esperança ou conscientização?

Homicídio.

"Jovem de 17 anos ganha bolsa para uma das melhores universidades do mundo. Morador da periferia de Recife, costumava passar seus fins de semana na biblioteca comunitária. Um estímulo".

Tiroteio.

"Com 50 anos de idade, dona Maria é alfabetizada e lê seu primeiro livro para seu neto Alfredo."

Tráfico.

"Oficinas de Hip-Hop e break são instauradas e resgatam dezenas de adolescentes da faculdade do crime. Rápido.

Marionete.

"Grupo de RAP realiza palestras e despertam o senso crítico dos excluídos. Extinguindo o 157.

Dois amigos discutiam. Com opiniões bem divergentes, Fred e Ana tentavam convencer mais outros dois amigos que nessa altura da disputa, só faziam mudar os olhares para um e para o outro. Quando pensavam em concordar com um, o outro sempre chegava com uma justificativa em função de derrubar a opinião em formação.

- Eu disse a você que de certa forma nós ainda perecemos. Fred fala em um tom mais alto em direção a sua amiga Ana.

- Não temos subsídio para vencermos sozinhos caso pensemos coletivamente. Cada um é cada um. Alguns possuem forças para resistir e outros não. É uma questão de genética!

- Sim, tudo bem. Não tiro sua razão quanto a isso. Mas existem vários espelhos que despertam o bem onde só há maldade. Sei que desde cedo as crianças e adolescente se graduam nas malícias da vida. Mas olhe ao seu redor que verás que aqui não só há tristeza. Veja o sorriso do menino jogando bola. Veja a senhora regando a planta e sentindo o ar livre. Olhe o ex presidiário que ostenta sua liberdade trabalhando e sustentando seu filho. Tá aí na sua frente, abra os olhos! - Responde Ana com os olhos prestes a voarem das órbitas oculares. Fala com convicção que a esperança existe. Fala com autoridade que a esperança resiste. Fala com entusiasmo que a esperança triunfará em meio ao caos.

A roda de amigos está em chamas. O vinho tá na mente. Já é a quarta garrafa. Estão eufóricos. Pausa dos pensamentos para o som. Todos colocam uma música e dizem o motivo de a terem escolhido. O papo flui. Fred escolhe um RAP melancólico e se emociona. Ana escolhe um clássico de Caetano e se emociona. Rita e João não fazem questão em expor opiniões. Eles só querem curtir o som e beber o vinho. Estão estressados da árdua rotina.

Ana quebra o silêncio:

- Tu tá se corroendo Fred. Viva! Deixe de pensar demais. Seja egoísta as vezes. Ao invés de ajudar, permita ser ajudado. Erre. Chore mas também sorria.

Fred suspira, dá um sorriso e comenta em seguida:

- Eu sei Ana. Entendo sua preocupação. É que eu acho que pra vivermos em harmonia, pra vivermos em sociedade, temos que ter nossas diferenças. Já pensou se todos nós fizéssemos as mesmas funções? Que mundo chato pra caralho seria heim? Pois é. Assim que vivo e penso. Se alguém não impor as desgraças e empecilhos que vivemos. As barreiras que enfrentamos diariamente. É como se não existissem! É como se nós tivéssemos omitindo! Seja você a positivista. Se meu irmão chora por um motivo, eu direi ao mundo o motivo por qual meu irmão chorou. Assim conscientizaremos as pessoas para que outros irmãos não chorem mais por esse motivo. Ou que pelo menos ele tenha conhecimento do que provavelmente o fará chorar. Ficando em suas mãos se chorará por esse motivo ou não. Pra não ficar chato e só eu falar e tal, deixo minha palavra final: conscientização!

Todos estão de cabeça baixa. Tá rolando a música "quando o pai se vai" de G.O.G. Ana percebeu que Fred parou de falar mais Rita e João estão em outra galáxia. Eles são ex namorados. Há meio que um constrangimento por estarem tão próximos e ao mesmo tempo tão distantes. O álcool desperta o desejo de ambos, mas preferem permanecerem neutros e deixar o protagonismo para a discussão de Fred e Ana.

O vinho acaba. A música acaba. A noite acaba. O desejo de Rita e João também acaba. Mas a discussão não. Afinal, quem estará com a razão?

Já são duas horas da manhã e o centro de Recife permanece movimentado. Os amigos decidem voltar para casa. Tudo certo na volta. Foi-se a sexta. Tudo acabou. Apenas a pauta levantada permanece em aberto. A esperança ou a conscientização?

Eis a questão.

Mr Frank
Enviado por Mr Frank em 21/09/2016
Reeditado em 04/07/2017
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