AINDA NOS TEMPOS DE "VIVA A BELA"

Nos idos dias a gente marcava encontro facil na esquina do Astoria. E na maioria das vezes nem era preciso marcar, bastava ir para la', nos nossos horarios nobres e pronto. Encontro certo, papo selado e alguns diziam, carimbado.

Naquela parte alta da rua Halfeld todo mundo conspirava. Era missa sagrada. Conspirar era a sobrevivencia da nossa alma, caso contrario seria sem chance para ressurreicao. No caso daqueles dias, a ressurreicao era politica, da politica e pela politica.

Os ditadores, com a sede da 4a. Regiao Militar em Juiz de Fora, nao conseguiam engolir a efervecencia estudantil circulando naquela parte alta da Rua Halfeld. Foi logo sair o famigerado AI-5 que o agente local do DOPS, famoso entre nos, o Beiral, perdeu a sua agenda diaria de penetrar entre os estudantes para ouvir as conversas. Nao foi mais necessario. E antes mesmo que caisse a repressao pesada para impedir grupinhos de bate-papo na esquinas da cidade, foi posto em pratica, justamente no final da decada de 60, inicio da de 70, a inauguracao do Campus Universitario, a UFJF. Assim, a concentracao estudantil estaria destinada a se deslocar do topo da rua central da cidade, para Sao Pedro, longe do borburinho proximo do Astoria. O entao ministro Jarbas Passarinho, nao perdeu um minuto em vir fazer o seu discurso inaugural, exibindo os seus conhecimentos enlatados da "dialetica marxista-hegeliana" fajuta.

Publiquei no Jornal Sete, nosso hebdomadario juizforano, a noticia do "Passarinho no Campus", se nao erro esse foi o titulo que dei aa noticia-critica-comentario.

Contudo, os anos se foram, o seculo virou e hoje a Rua Halfeld passou a ser o Calcadao e perdeu todas as suas caracteristicas do "calor humano", do encontro amigo e da gestacao utopica. A rua Halfeld acabou.

No entanto, para que haja alguma chama de resistencia, qual a brasa que fica escondida entre as cinzas, eperando por um ventinho aa favor, suspirei assim, dentro das campanhas que assolam hoje a cidade, visando coletar votos para vereadores e prefeito, e imaginei-me sendo procurado para fazer uma frase de efeito a ser pintada em faixas exibidas em passeatas, como nos velhos tempos a gente fazia.

Evidentemente, o tema, a frase, teria que tratar de um contra-governo assumido no pais, feito o de 64, muito mais doque apenas palavras para vereadores e prefeito. Assim fiz. Concebi o elo no tempo na imaginacao, e marquei encontro com a turma de passeateiros, incluindo o DCE, na esquina do Astoria e levei a frase que concebi:

JUIZ DE FORA TEMER

Eugenio Malta

Eugenio Malta
Enviado por Eugenio Malta em 22/09/2016
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