UMA BARRAGEM EM IGUAPE-SP 1ª PARTE

UMA BARRAGEM EM IGUAPE-SP- 1ª PARTE

Em 1977, após uma viagem ao Nordeste, voltei de férias e logo me comunicaram que a empresa havia contratado uma obra em Iguape, cidade histórica do litoral sul de São Paulo, onde ocorre o segundo evento religioso mais importante do Brasil, no dia 6 de agosto. A comemoração dura uma semana e a cidade fica lotada de romeiros de todos os cantos do Brasil. É a terra do Bom Jesus de Iguape, imagem localizada por dois índios numa praia em 1647. Passa por ali também a linha divisória do célebre Tratado de Tordesilhas, que delimitava as terras pertencentes a Portugal e Espanha. Por ali, reinou o famoso Bacharel de Cananéia (degredado Cosme Fernandes), que vivia entre os índios e, junto com o aventureiro espanhol Ruy Garcia Moschera, comandou os índios carijós lutando contra as tropas de Martim Afonso de Souza, em 1534/36. É o município da extremidade norte da Ilha Comprida. O engenheiro da obra seria eu.

Outra característica marcante de Iguape é o Valo Grande. O Rio Ribeira de Iguape, apesar de ser considerado um rio paulista, nasce no município de Iporanga, no estado do Paraná. Percorre um trecho na serra do Mar e, após a cidade de Registro, desce suavemente através de muitos meandros, passa em Iguape (Barra do Ribeira, onde havia o porto da Ribeira) e, após uns 30 km, já praticamente ao nível do mar, desagua no Oceano atlântico em um local chamado Barra de Icapara.

No século XIX, além dos portos de Rio e de Santos, o Porto de Iguape era de grande importância para a economia do Império. Por ali escoavam as riquezas vindas do planalto de Registro, tais como arroz, ouro e outros produtos. Localizado a três quilometros do porto da Ribeira, onde as mercadorias eram desembarcadas e transportadas em lombo de animais, o Porto de iguape era abrigado pela Ilha Comprida, permanentemente a salvo de tempestades. Em 1865, D. Pedro I autorizou a abertura de um canal com 4 metros de largura ligando os dois portos, para agilizar o transbordo de mercadorias vindas de Registro, atendendo a diversas solicitações dos empresários de cidade. Aberto o canal, foi implantada cobrança do primeiro pedágio do Brasil. Cada embarcação pagava uma taxa para usar o canal recém aberto. Por pouco tempo. A abertura dessa vala criou uma condição hidraúlica execepcional, gerando fortes correntes que, agindo sobre o solo arenoso da região, provocou erosões que destruíram mais da metade do povoado de Iguape, assoreou o porto e comprometeu o ecossistema do Complexo Lagunar Iguape-Cananéia, devido à brusca alteração na salinidade das águas. Resultou disso um canal com largura média de 300m e 3 km de comprimento e denominou-se o mesmo de Valo Grande. Ao longo dos anos foram feitas várias tentativas de fechamento do Valo Grande e, em todas elas, a natureza foi mais forte e não se obteve sucesso.

Na segunda feira, 08 de agosto de 1977, fomos à Iguape. Depois de percorrer 200 quilometros, 55 dos quais em uma estrada de terra, chegamos à cidade. Dois dias após a comemoração do dia do santo, a cidade mostrava ainda vestígios das festividades. Visitamos o local onde seria executada a obra: a Barragem de Fechamento do Valo Grande.

Paulo Miorim

Santos, 22/09/2016

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 25/09/2016
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