O louco e a Miliciana do Xerox

A copiadora ficava duas casas abaixo do restaurante de comida mexicana que tinha um muro pintado de verde, além de algumas letras havia o rosto do personagem “Seu Madruga” com seus olhos arregalados e o típico chapéu desbotado. Emilson desceu agitado observando os dois sentidos da via, passava das 11 horas e a tendência era o aumento do fluxo de veículos, também pela imagem de um atropelamento que trazia na memória advindo de um pesadelo da noite passada. Um filhote de coelho vinha correndo após saltar da janela de um carro parado no sinal vermelho, um garotinho de aparentes sete anos de idade chorava dependurado com quase todo o tronco do lado de fora gritando pelo animal, mas o semáforo abriu e o carro não tinha como esperar as brincadeiras do coelho, porém uma senhora negra e gorda de lenço amarrado na cabeça, literalmente estereotipada nos moldes das antigas serviçais, sairia sem vontade própria para buscar o animal, era a mãe de Emilson que entre um desvio e outro encontrara um desesperado para chegar ao fim do mundo no mesmo minuto. Com o choque seu corpo avantajado fora arremessado sobre a calçada onde o coelho comia restos de comida, sem conseguir se livrar a tempo fora esmagado pela mulher que pedia para avisar seus filhos, queria tomar-lhes a benção antes da morte chegar. A segunda parte Emilson não fazia questão de recordar, sonho confuso repleto de símbolos como se quisesse contar-lhe alguma coisa, aquilo só poderia ser agouro. Em cima do balcão de vidro um anjo de gesso sobre umas pedras com rosas mitológicas ao redor, o centro era um relógio que indicava 11h15min, fazia muito calor e a atendente com sua pele de jambo estava de olhos fechados absorvendo o vento do ventilador, a cena parecia montada para filmar, suas feições era de uma namorada antiga que ainda nutria sentimentos. Sua boca semi-aberta e a pequena falha nos dentes dianteiros transmitia uma dose generosa de sensualidade, um colar de cordão preto e uma figa branca que brilhava ao reflexo da luz, uma blusa vermelha de malha decotada com babados sutis fazendo um arco de ombro a ombro, os seios fartos estavam arrepiados, mesmo com o sutiã rosado denunciado pela alça direita que exorbitava. Emilson pisou leve para olhar mais perto aquele conjunto, mas o telefone tocou e ela abriu imediatamente os olhos, acanhada disse um oi pavoroso sem direcionar a vista, deixou o aparelho tocar mais uma vez, mas parecia entender do que se tratava quando a chamada não continou. Emilson sabia que alguma coisa estava errada, aquela era a pessoa que estava na garupa da moto que passou na televisão, apesar de não ter visto o rosto, mas a silhueta e a figa no pescoço não deixavam duvidas. Armaram-lhe uma emboscada e ele estava caindo, aquele toque de telefone para avisar que viria era truque antigo, crescera vendo “Agente 86” 007 com suas saídas estapafúrdias, Mcgyver fazendo bombas com pasta de dente e cadarço de sapato. A moça sequer perguntava o que ele queria, olhava muda como se houvessem lhe arrancado a língua, sair naquele momento ele não podia, com certeza os homens não o deixariam viver além de poucos metros, mas usaria a ultima carta da manga. A moça continuava no canto parada com cara de culpa ou de medo. Emilson atacaria para não ser atacado, sempre ouvira dizer que o ataque é a melhor defesa, então saltou o balcão com agilidade, mas antes que tocasse a atendente o grupo de policiais que monitorava do lado de fora lhe aplicou uma descarga de choque. Emilson foi preso nu com o prontuário de outro interno. Para a Policia ele contou que era medico e havia descoberto uma conspiração contra ele e que aquela moça fazia parte de uma milícia que traficava coelhos da páscoa e mandara matar sua mãe nos sonhos. Não usava roupas pois estavam contaminadas com soníferos.