Regalias? Que regalias?

Li esta semana que o nosso digníssimo Ministro da Educação disse (ou teria dito) que para amenizar a situação calamitosa dos cofres de estados e municípios seria necessário, em caráter de urgência, acabar com as “regalias” dos professores.

Ora, sou professor há 21 anos e gostaria de saber onde estão essas tais regalias. 45 dias de férias? Senhor Ministro, em boa parte desses dias estamos à disposição das escolas e podemos ser convocados a qualquer instante. Além do mais, trabalhamos 200 dias letivos e para termos uma vida minimamente digna, obrigamo-nos (ou somos obrigados) a, em muitos casos, uma carga horária que excede a 10, 12,14 aulas diárias.

Aposentadoria especial? Trabalhar 25 ou 30 anos é por acaso aposentadoria especial? O que dizer dos oito anos dos políticos? Temos um piso nacional? Por acaso, um valor que não chega a três mil reais pode ser comparado aos astronomicamente nababescos salários de nossos meritíssimos juízes, senadores, deputados, vereadores, presidente, governadores e prefeitos? E o que falar dos mestres que recebem muito menos que o piso?

Não temos assessores, senhor Ministro; muito ao contrário de nossos ilibados representantes em todos os níveis e poderes da República. Nem todos nós recebemos auxílio alimentação, enquanto vossas excelências, apesar dos altíssimos salários, contam com esse benefício “indispensável”! Nosso auxílio transporte é irrisório, enquanto o vosso é absurdo e desnecessário quando considerado o soldo recebido.

Temos que nos equilibrar na corda bamba para manter as contas em dia, pagar aluguel, combustível, casa própria, vestimenta etc. Para tanto, além de nosso salário, não contamos com auxílio moradia, auxílio combustível, auxílio paletó, verba de gabinete (nem gabinete temos) e tantas outras benesses que ultrajam a moral e a ética.

Ainda querem nos empurrar goela abaixo uma reforma educacional sem que nos ouçam e de forma quase que imediata, sem o devido planejamento. Só agora perceberam que os números não lhes agradam? Estão indo pelo caminho errado. Não vi até agora falarem em valorização do professor, valorização financeira, pessoal e profissional – não necessariamente nesta ordem.

Meus sinceros aplausos a quem, em nome do enxugamento da máquina pública, procura expurgar o pouco de dignidade e direitos ainda restantes da classe que sustenta de fato esse país: os professores e todos os demais trabalhadores da base da pirâmide social. Aqueles que estão no topo desta pirâmide estão patrocinando um holocausto social, mas não devem se esquecer de que quando a pirâmide ruir, todos estarão juntos nos mesmos escombros.

Poupem-nos, pois, todos que tramam e executam este plano macabro, desumano, desonesto, amoral e imoral de retirar do ESTADO a sua parcela de responsabilidade (que não é pequena) diante de uma crise, no sentido mais amplo possível da palavra, sem precedentes. E, antes de querer ceifar o que julgam errado nos outros, olhem – se consciência tiverem – para o próprio rastro de lodo podre de corrupção, falta de ética, de moral e de valores realmente humanos, rastro esse que está ficando cada vez mais nítido e que vem sendo derramado cada vez mais de forma escancarada, enojante e repulsiva.

Cícero Carlos Lopes – 29-09-2016

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 29/09/2016
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