Crônicas de Escola – Crônica Pantaneira Número 1: A Cerejeira Roxa do Norte Malaio
Viagem com alunos é sempre uma emoção à parte. Muitos deles já viajaram mais do que assistiram a aulas, têm mais de um passaporte completo, mas não conseguem dar um passo sozinhos no aeroporto. Chegam a responder “como assim?” quando se pergunta se já fizeram o “Chuck-in” até. A coisa só piora quando se chega ao hotel.
Como se não bastasse o dia cheio com atividades, oficinas e tomando conta de quase uma centena de adolescentes hiperativos e com os hormônios em ebulição, a noite chega, mas o sossego ainda está longe. Estava no meu quarto descansando, assistindo a um jogo de futebol antes de dormir e escuto um toc-toc repetitivo na porta do meu quarto. Finjo que não escuto, de repente a pessoa se arrepende, mas continua. Continuo fingindo, tal qual se faz com o despertador, torcendo para que ele esteja enganado. Porém, o toc-toc continua, que nem o Sheldon vestido de Flash na porta da Penny. Atendo.
- Vem comigo, aconteceu algo muito sério.
Como era uma viagem ao Pantanal, logo penso nas seguintes opções:
(a) Os alunos sequestraram algum animal silvestre.
(b) Os alunos mataram algum animal silvestre.
(c) Os alunos levaram piranhas para o quarto. Sem duplo sentido, por favor.
(d) Os alunos não se ligaram no fuso-horário e acharam que voltaram no tempo.
(e) O jacaré comeu um peixe.
(f) Ninguém pontuou no desafio de soletração por causa das palavras “tuiuiú” e “ariranha”.
(g) Todas as alternativas.
Não era nada disso. Durante uma “brincadeira”, dois meninos trocaram alguns socos e quebraram parte da porta. Olho e parecia nada de mais, algo de fácil conserto até, mas não perdi a oportunidade de me vingar.
- Meu Deus, isso é muito sério!
- Eu te disse!
- Vocês vão ter que pagar pela porta inteira.
- Mas só quebramos uma parte...
- Cara, por algum acaso, você pode ir a uma loja e comprar, por exemplo, só a sola de um tênis? Óbvio que não.
- E agora?
- Olha aqui (bato de leve na madeira), está vendo que ela afunda um pouco e logo volta ao normal? (mentira).
- Verdade... (como assim? Efeito placebo ou hipnose?)
- Pois é, algo típico dessa madeira, “cerejeira-roxa-da-Malásia.
- Ah... Cerejeira-roxa-da-Malásia? (como quem conhecia muito bem a árvore inexistente).
- Pois é, mas da Malásia do Norte.
- Nossa, do Norte! (Esse rapaz nunca jogou War).
- Pois é, uma porta nova vai te custar uns 5 mil reais mais o frete da madeira até aqui. Você tem dois rins, já pensou em vender um?
O diálogo continuou, com o menino levando a sério a última pergunta. No dia seguinte, tudo resolvido, de graça, com um funcionário do hotel consertando tudo com um martelo e alguns pregos.