OS PERFUMES CAROS

OS PERFUMES CAROS

Foi aterrador ver-me retorcida

nas ferragens do corpo inteiro

vendo minha imagem denegrir

meu corpo inteiro vendendo a alma

tão barata como espelho aos indígenas

como fonte de água a quem tem sede

fui ao mundo dos mortos

entrei na tumba secreta de Dante

nada escrito compreendia

um "nada" de caminho vivo

fui ter a pedras e as rochas

todas descidas do alto quebradas

todas descidas do alto com

alguma mensagem pintada

e nenhum dos meus batons tinha

um cor tão exótica da qual procurava

eu estava buscando sair

do marasmo ressentido do asco

de poucos amigos e um inimigo

que de longe se divertia

deveria estar vendendo-me

escolheu-me como o monumento

a ser deixado na praça

como a graça dos amuletos

que todos carregam quando estranham

estarem nos seus séquitos grupos

sozinhos

este vestígio veio alcançar-me

era perto do inicio da tarde

o morno sol golpeava o chão

depois de úmido chuvoso

precisava de uma vitrine de rua

p'ra destoar um tempo quieta

e veio a indireta perversa

n'outro lado entre o seus iguais

eu já estava duplicada partida

aquela outra que havia sido

destituída das pétalas

era estigma não resolvida como fruto

desfilava no centro da mesa

como stripper recebendo cifras vulgares

dos olhares de lagartos balbuciando

entre suas orelhas compridas

"que a vinha tinha cachos doces"

minha taça de café derramando

desequilíbrios me conduzia

comprada devolvida até eles precoces

dominadores de animais ferozes

eram atrozes do bom gosto

sobrecarregados de senso comum

me vi completamente usada

o feminino creio detesta ser roubado

o mundo acaba vertendo as lágrimas

que dentro são perfumes tão caros

que raros oferecidos de graça

não sendo um amor correspondido

"os acervos de saída são todos escuros".

MÚSICA DE LEITURA: Billie Holliday - Strange Fruit