Memórias
Nasci numa casa ao pé de um pequeno morro, na localidade denominada Tupanci, 5º distrito do município de São Sepé, Estado do Rio Grande do Sul. Meu pai chamava-se Abílio da Costa e Silva, minha mãe ainda existe e chama-se Julieta Pereira da Silva os quais tiveram 10 filhos legítimos e 1 de criação, sendo eu a segunda da prole. Nossa casa, toda em alvenaria, era considerada grande. Havia, junto a mesma, um galpão onde costumávamos tomar chimarrão ao pé do fogo de chão. Aos fundos, na parte sul havia um arvoredo grande que, além das diversas qualidades de frutos, era o coro da passarada que ali gorjeava desde o clarear do dia até a noite. Do lado esquerdo, uma mangueira de pranchas de madeira. Ao lado direito, havia uma cacimba de água puríssima, com a qual abastecíamos a casa e servia de remédio para muitas pessoas que diziam ser aquela água tão boa que curava como se fosse remédio de farmácia. Bem em frente, a uns quinhentos metros, um grande cemitério onde meu pai costumava fazer a sua visita quase ao escurecer do dia. Ali rezava pelos mortos. Lembro-me de que na época se falava muito em assombração e até diziam que a nossa casa era mal-assombrada porque fora reduto, hoje em ruínas, da maior fazenda do distrito. Meu pai, porém, não acreditava em assombros e para provar isso andava pelo morro, cruzava picadas e até ia ao cemitério à noitinha. Porém, sempre ouvia os outros dizerem, ao se referirem ao assunto, “Não acredito, mas, também não duvido”. Outros ainda diziam: “Não acredito, mas que há, há!” Como eu era ainda muito jovem isso me fazia criar certa confusão no pensamento, chegando quase morrer asfixiada com a coberta na hora de dormir. E aí me ocorria o pensamento da possibilidade de me aparecer algum morto sem cabeça ou um cadáver estático no meu aposento.