DESCONSTRUINDO ISOLDA

DESCONSTRUINDO ISOLDA

As aparições carentes no sonho

fui tudo obra sua que conheço

também está no começo

que volto a sentir passando

creio algo que devo ter gostado

no entanto estou com alguém

pedindo-me p'ra amar

quando não amo

portanto para onde preciso olhar

quando tenho ele sentindo

meu corpo tão frio de amigo

tão assim sinico quase doado

planta que precisa de água

ele me tem como fonte

enquanto por dentro não sou nada

além de uma obra intocada

que você construi agora percebo

que desde a muito tempo

que conheci meu amante sou vulgar

tendo coisas imitadas no mesmo

lugar no mesmo espaço

quando paro e penso que já havia

visto na verdade esta metade

é teu signo corrompendo evoluindo

destruindo a alma dele

que até mesmo suas notas de amor

estão parecidas que enjoo

sorrindo p'ra tê-lo de novo

sem precisar contrariar sua autoria

falsa sua mentira exata

compreendida no momento que me mata

sendo diferente me perco

está claro entendo

estou ainda amando você

por isso vejo nele um instante puro

e resolvo trair pra voltar a ser falso

nas quantas vezes que fiz isso

fabriquei teu retrato de espírito

dentro de um corpo sendo outro

travestido do meu cinismo exagerado

ele tolera estando apaixonado

ele se entrega como flores no vazo

não podendo sair de si mesmo

é um molde barro avulso

posso fazer dele esta ilusão

esta aflição de caso mudo

do coração faminto querendo

o que minto sonhando acordada

sendo quem foi embora

e deixou até mesmo sua história

p'ra que eu conte tudo de novo

n'outro episódio

e o ódio da boca da febre diferente

expulso indecente gritando

na volúpia quando amando

deixo ele gozar pensando

que fui por ele amada

então prisioneira deste homônimo

faço de conta que é verdadeiro

afinal ele até namora

meu corpo do mesmo jeito!?

MÚSICA DE LEITURA: Jolie Holland - Old Fashioned Morfine