A ESPERA

“Faltam dez minutos para as vinte horas, pelo jeito, ela não vem. Já deveria estar aqui. Nem sinal. Calma! Preciso manter a calma; afinal, ainda não são vinte horas. Estou me afobando à toa. Hum! acho que é ela que vem lá. Pelo jeito parece... deixe me ver... pera aí, não, não, não é. Não é possível que ela vai me fazer... pareceu-me bastante intusiasmada quando combinamos. Pensando bem, não sei o que passa na cabeça dela. Mas ela vem. É este meu pessimismo que me atrapalha. Estou julgando a moça sem ao menos conhecê-la melhor. Perdeu o ônibus, sei que ela vem de ônibus. É o mais certo. Daqui a pouco, surge a minha frente. Quanto a isso, não tenho dúvidas.”

“A verdade, que estou querendo é me ludibriar. Já são vinte e dez e a mulher não dá nem centelhas de vida. Não vem mais, decididamente. Logo vi seu jeitinho esquisito. Não me engana. Aspecto muito reticente, enigmático e um corpo esculpido. Não adianta, porém, iludir-me com seus dotes físicos, uma vez que ela não vem. O sensato, agora, é sair desta penúria, já! Hoje é sábado e não quero perder minha noite. Vai ver a esta altura, deve estar feliz da vida em algum canto desta cidade. E o que é pior: nos braços de algum felizardo. Um autêntico imbecil o que pareço. Santa ingenuidade a minha! Esperando alguém que não vai dar as caras. Para completar, não consigo arredar o pé. Parece que tem cola neste calçadão. Só espero mais um pouco, um pouquinho só.”

“Acho que vou comprar um saquinho de pipocas para passar o tempo. Não, a pipoca vai sujar os meus dentes. Mas e daí se sujar? Ela não vem mesmo! Vinte e uma horas, o que faço? Talvez tenha acontecido algum imprevisto; seria mais que natural. Bobagem. Não aconteceu nada. Ela não vem e fim de papo. Vinte e uma e quinze, quando encontrá-la, vou dizer “poucas e boas.” Palhaço, não sou, muito menos, trouxa. Fico aqui plantado, feito besta. Vou sair daqui antes que eu...”

- Olá! desculpe o atraso - a moça surge repentinamente -, tive um pequeno contratempo, aí...

- Não se preocupe! Não se preocupe! - A voz treme de satisfação - Está tudo bem! Está tudo bem! Muito bem! Vamos?!

Marcos Arrébola
Enviado por Marcos Arrébola em 25/07/2007
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