ISENÇÃO SERENA DIANTE DOS FATOS

Vivemos, atualmente, uma guerra de intenções, um vale tudo radical e perigoso.

Creio que os confrontos ainda não ocorreram, devido à natureza mais pacífica, que ainda predomina, entre a maioria, e o desinteresse parcial dos militares em assumir a bronca.

Torço para que não cheguemos às vias de fato e não se repita a situação vivida entre os anos sessenta e oitenta, que tanta incomodação, tragédia, prejuízo e brutalidade provocou em nosso país. Vivi tudo isso, passei maus bocados, mas reconheço que também houve progresso e algo de bom nesse período. Não posso, por ter sofrido nas mãos dos militares, apoiar os que pretendem demonizá-los, totalmente. Ninguém é totalmente mau ou bom, culpado ou inocente, e por esse motivo, é preciso usar de muito bom senso, diante dos acontecimentos.

Por estes dias, vi algumas pessoas anunciando que um prefeito eleito, cuja plataforma indicava acabar com a indústria da multa, criara novas e muitas multas, relacionadas em uma extensa lista. Só é necessário usar um mínimo quinhão de raciocínio para entender que, ainda que tal notícia fosse autêntica (e não era), o alcaide eleito só tomará posse em janeiro, terá de assumir seu posto, analisar a transição gestacional, nomear seus secretários, estabelecer suas prioridades, elaborar projetos, apresentá-los ao poder legislativo e, só então é possível ter algo a apresentar à população. Isso demandará muita movimentação, participação da nova e eleita câmara e consulta pública, como determina a lei vigente. Se houvesse alguma veracidade em tal afirmativa, a proposição (somente) teria partido do atual gestor municipal, seu opositor.

O exemplo foi citado, apenas para mostrar o quanto se está optando em denegrir, forjar, criticar, defendendo uns e atacando outros. Não há como construir um caminho positivo, se o que viceja nas almas é algo próximo da irritabilidade, ira, agressividade e desprezo. Aqueles que defendem seus simpatizantes ou coidealistas, mesmo quando erram, e agridem todos os adversários, mesmo quando tentam acertar, lutam a má luta e fazem pouco da paz.

Nosso país vive um caos permanente, que piora ou melhora um pouco, mas permanece caótico. Nunca houve melhora significativa e duradoura, a não ser em assistencialismo, que dá uma ajudinha, mas não muda a vida de ninguém. Enquanto o povo segue sem eira nem beira, os que comandam a nação, ou a comandaram antes, locupletam-se, ganham altos salários, têm direito a mordomias, assessores, guarda-costas, veículos, mesmo quando alijados de seus cargos. Conseguem tudo que querem nas repartições, não precisam utilizar o péssimo serviço de saúde pública, transporte público, escolas públicas, então acreditam que tudo vai bem, pois vivem em uma ilha de prosperidade, que está a anos luz da realidade cotidiana de nós todos.

Temos milhares de maus cidadãos infestando os ambientes legislativos, ocupando altos cargos executivos, atuando no judiciário, administrando ou gerenciando repartições, autarquias ou servindo, péssimamente, à população, como contratados ou concursados. A arrogância que se vê, em todos esses lugares, só se equipara ao despreparo, cinismo, corporativismo, frieza e desrespeito para com o bem comum, o povo e o próprio país, que tais pessoas exibem.

Não são apenas os que lá estão (agora), mas também os que até bem pouco estiveram, os que estavam antes e por aí afora. Seus rótulos (socialistas, capitalistas, democratas) servem apenas para posicioná-los, antagonicamente. Todos são corruptos, omissos, usufruístas sem pudor, que utilizam o poder, esbanjando o erário sem dó, distribuindo cargos, verbas, ágios e todo tipo de participações, viajando de primeira classe, comitivas gigantescas, privilegiando outros povos e governos afins, com o dinheiro que resolveria muitos problemas domésticos.

Alguem sugeriu que minha isenção é negativa, mas em toda minha existência ainda não conheci qualquer participação positiva. Simplesmente, não há a quem recorrer. Aguardo há décadas que apareça alguém decente e capaz (obrigatoriamente, com as duas qualidades), que queira por ordem na casa, insurgir-se contra a podridão de esquerda, direita e centro, agir decentemente e não ter medo de morrer no meio do caminho. Tal pessoa teria de ser íntegra, desapegada das mumunhas do poder, independente e não afeita a conchavos, líder e muito bem articulada, mas destituída de revanchismo, prevalência e impostura.

No entanto, enquanto o próprio povo gerar turbulência, apoiar maus elementos, incorrer em atos agressivos, tentar se dar bem, agindo mal, cooperar com intrigas, nada vai mudar.

Fogo se combate com água. Somente serenidade e bom senso podem fazer frente às falcatruas e deformidades dos que detêm algum poder. É preciso pulso firme, mas da maneira correta, estabelecendo critérios justos, imparciais e fundamentados. Verdade e justiça.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 12/10/2016
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