O dia a dia de uma professora de Português
Tudo acontece durante a manhã de quarta feira. Os alunos pouco dispostos a ouvir o blá blá blá da aula de Língua Portuguesa. Eu, em vão, proferia palavras com funções de sujeito e predicado. Quem ouviria? Alguns, poucos, talvez ninguém... mas era o meu trabalho e ali decidi ficar.
Uma voz atrevida ergue-se sobre a minha: "Professora, que horas acaba essa aula?" Respirei fundo, para ter a certeza de que ainda vivia. "Oito e vinte", respondi impacientemente, e prossegui a minha aula (tinha que cumprir tabela).
Ao fundo, um batuque, um som desarmonioso e extravagante (chamam de "funk"), quase baixinho, denunciava o dono do celular. Pedi educadamente ao proprietário que guardasse o seu penico... ou melhor, o seu aparelho. Afinal, regras existem para serem seguidas. Ele obedeceu meio a contra gosto. Ah, mas deu logo um jeito de substituir o celular... Eis que ouço uma voz ao longe: "Maladramente... a menina inocente, envolvida com a droga.... ai, safada!..." interrompi. "O que é isso? Quer parar de cantar essa porcaria?" Mentira! Não disse isso não; mas pensei em dizê-lo. Me contive. "Para com isso, menino!" Foi o que falei, verdadeiramente.
A aula não acabava mais... para a impaciência dos queriam jogar bola na quadra; aflição dos que desejavam trocar ideia com o colega ao lado; agonia dos que ansiavam pela merenda; e indiferença dos que só vinham para a escola porque não tinha algo melhor para fazer.
O alarme foi acionado. Viva! Vitória sobre os cinquenta minutos de conhecimento transmitidos ao léu. Em mim, o sentimento de fracasso, desânimo e cansaço, que não devem, de modo algum, fazer-me desistir. "Bom dia!" Estou em outra sala, outra turma, novos rostos... Contudo, algo me diz que nada mudará e o ciclo voltará ao seu ponto inicial: de novo as perguntas infames, as músicas vazias, as conversas paralelas... etc...etc...etc...