A FONTE ato 2

A FONTE - ato 2

Debaixo da escada havia cheiro

de fluidos vaginais caindo por gotas

severas forças eternas a ele preso

serpentes douradas continham

suas pernas ele não reconhecia

o chão que estava espelhos

das gotas d'águas faces puritanas

dançando perto da festa

onde a fogueira reinava labaredas

uivava fogos nos corpos

que em fumaça subiam e desciam

pra cair bem perto dele

o velho de bigode era curvilíneo

da cintura para cima pernas finas

o peso caia na sua forma robusta

desenhando primeiro a barriga

lambuzada de sangue qualhado

se aproximava ferindo os olhos dele

um mandrião dependurado escorria

gelatinosos pedaços de um corpo

plantado acima do solo donde

estava tinha cheiro de terra úmida

de terra cavada a muito que ninguém

ouvia falar sobre aquela novela

macabra dos fundos da casa

na frente dele agora estava viva

o velho grita vocifera atingindo

seus sentidos com vozes estranhas

misturadas a outras vozes conhecidas

numa delas de longe parece

a voz do seu filho chorando sozinho

como uma chaleira esquecida

fornalha de ferro fundido

afiando espadas pra batalha que começa

quando ele não pode mais ter pressa

desespero que enfraquece

nada de céu aberto nem sombra

de mundo conhecido ele enlouquece

sente que perde os sentidos

está coberto de cinzas que falam

que entendem sua lingua

querem absorve-la como beija-la

adoram seus cuspes o que verte

da boca no rosto sem barba

cerrada crescendo exala

alguma alma que foi perdida

escorre a lágrima da vítima

ela estava presa dentro dele

uma sombra esquelética desprende-se

das paredes de rochas barrentas

que deslizam parece pedaços

de gente moldando pequenos bonecos

que abrem os lábios num eco

como crianças diante do leito materno

que não mais ouve porque está morta

moscas as redor revoam primas

de olhos procurando os nascidos

querem seus medos trazendo

aquele cheiro de imaturos sorver

sem aviso até a morte dos mesmos

ele risca sua dor covarde

a dor que invade de onde ela vinha

onde estava escondida

"a dor do assassino é sombria

nada dorme com o algoz macabro

o que atinge e corta seu corpo

pertence a sua batalha "

a dor dele abria sua alma

nos olhos retratos da vida que tinha

quando caminhava na paz "resolvida"

perto dos escombros mal percebia

que estava sendo levado ao encontro

das forças do domínio de um Cézar

que não tem império na terra

mas caça sua presa na superfície

olhe abaixo da escada

há poucos nomes gravados

faltam degraus no caos violento

um franzino magrelo de botas

com pajem suspensório suspendia

as pesadas pedras no alto onde o vento

trazendo poeira caia sobre o rosto

quando os talhos escreviam

quem dentre as sombras iria

ser oferecida ao deleite do reino...

MUSICA DE LEITURA: COPHIA NIA - That which reamains