17. Ela Assobia

Eles protestam pelas suas misérias, pelas suas moléstias, pelas suas desgraças – eu sinto falta disso; o temor assume o controle de meus pensamentos: a lei de compensação agirá sobre minha existência?

Sou digno da Fortuna que minha vida ostenta? Alguém é?

Qual mal virá para me limar?

Quando?

A Desgraça não é aquilo que o Destino sente prazer em semear? Onde está a minha?

Sua primavera logo chegará?

Não permito a mim mesmo a excitação prazerosa da conquista – pois não sinto que algo nessa vida se permita ser conquistado mais do que por algumas fatias de tempo; logo deserta.

A Felicidade é uma ilusão; eu sei. É lucidez não se permitir ser iludido, ou seria isso a própria loucura?

Eles, todos, nutrem ilusões neste mundo, a sanidade mental é questão de estatística?

A propriocepção de minha existência resta prejudicada?

A balança de pesares e bonanças perdeu seu equilíbrio?

E quando ele será reestabelecido?

A Desgraça é iminente, eu sinto seu cheiro, amargo, metálico! Furtiva, escondida nas sombras do futuro, é uma singular entidade que, inexistente, consegue fazer com que sintamos – os sensíveis – a sua presença; Ela Assobia... Ela está logo ali...