18. Cruzeiros Transatlânticos

Certa feita, Schopenhauer disse que o que realmente importa é a metade subjetiva do mundo, pois o vinho mais extraordinário se transforma em fel na boca de um tolo, mas o que é esse mundo interior senão o indispensável? Não é todo o restante mero instrumento, tempero?

A metade objetiva da existência é igual para todos os seres humanos, tolos, eminentes e gradações; toda a pluralidade humana deriva da riqueza do interior, ou da pobreza.

Açoitados pela riqueza, os eminentes velejam dentro de si mesmos, em mares tormentosos, enfrentando os mais diversos obstáculos, reconhecendo os mais fantásticos monstros, que desejam engoli-los e separarem eles deles mesmos – esse seria o seu maior feito.

Acariciados pela pobreza, os tolos navegam dentro de si mesmos, em mares tormentosos, livres da maioria dos obstáculos, livres dos monstros, seguros dentro de seus Cruzeiros Transatlânticos imponentes, jogados aos montes, livres da solidão, mas acorrentados pela ilusão da liberdade – eles nem sequer imaginam, mas os monstros já os engoliram há muito tempo.