A Ximbica e o Monjolo

Thales de Athayde

No dicionário a palavra ximbica quer dizer “jogo de cartas muito popular; casa de jogos”. Mas Ximbica para mim é o pé-de-bode-do-vô-Francisco, um Fordinho 1929, verde-escuro, pára-lamas preto, capota escura e motor com barulho de máquina de costura antiga. Quando a Ximbica sai pelas ruas logo chama a atenção de todos. Em meio a tantos carrões importados e nacionais, máquinas fabulosas, computadorizadas, automáticas, a Ximbica do meu avô tem sido a atração principal.

Não consigo explicar o que se passa no nosso íntimo quando vemos um bichinho desses perambular com elegância entre os demais. Será que um dia entenderemos esse sentimento? Ele soa como um estranho carinho por uma máquina tão simples mas que marcou época e foi o passo inicial da indústria automobilística mundial.

Esse mesmo sentimento tomou forma diante de meus olhos dias atrás com outra máquina mais simples, fabricada com apenas três peças de madeira, mas funcionando e dando espetáculo a um pequeno número de crianças e alguns idosos: um minúsculo monjolo instalado numa bica d’água no interior do Jardim Japonês do Bosque Municipal de Ribeirão Preto. Observei um senhor idoso chegar conduzido por alguém. Diante daquele pequeno espetáculo, tirou o chapéu e colocou-o no peito com a mão direita fazendo uma breve reverência.

Aproximei-me dele e ouvi seu sussurro ao companheiro:

- Foi de um monjolo que minha mãe alimentou nossa família durante a Revolução de 1932. Graças a ele não passamos fome...

Nesse momento percebi seus olhos marejados e uma lágrima escorrendo pela sua face enrugada...

Thales de Athayde
Enviado por Thales de Athayde em 26/07/2007
Código do texto: T580021
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