TRÊS APITOS

A chaminé de barro da fábrica de tecidos apitava e todo mundo saía correndo para pegar no batente (hoje deve existir quem corra de pegar no batente... rsrsrs). De verdade, fotografia auditiva na música de NOEL ROSA, fábrica de tecidos no Rio de Janeiro ao final do século XIX: emitia 3 apitos, marcando a entrada, o intervalo para almoço e ao final do dia (escravagista?). Tempo ainda de estabilidade & principalmente fidelidade, empresas construindo vilas operárias residenciais. Era em Aldeia Campista, um sub-bairro que aos poucos ‘perdeu o nome’ (não bairro oficial, ruas ‘disputadas’ pelos maiores no entorno - um tanto Tijuca, um tanto Vila Isabel) e o encanto doce ou romântico, excelentes exemplos na moça que seduziu NOEL ROSA e em algumas personagens melodramáticas de NELSON RODRIGUES (crônicas jornalísticas /”A vida como ela é...”/ e romance “Engraçadinha”).

Antes eram as muito necessitadas que trabalhavam fora de casa, coitadas, nas casas das “madames”, ainda num certo escravagismo não terminado em 88: todas submissas, fossem negras ou brancas. Ou costureiras e cabeleireiras... em casa. Ou mulher de português ao balcão do empório, mais comumente do botequim: eram os ‘secos’ e os ‘molhados’. As indústrias de tecidos, de cigarros, de alimentos etc. passaram a chamá-las. Na vizinhança ou em família, eram por despeito e inveja as “fabriqueiras”, pejorativamente, sem ofensa grave. Maridos engoliram o “não” e o apito... A classe feminina se mobilizou feliz, porém a verdadeira independência feminina começou mesmo ao final da década de 40, guerra extinta, mulheres valentes ocupando cargos, inclusive de gerência, a “chefona” de batom vermelho, salto alto, no comércio e em maioria principalmente na indústria. Escritórios e bancos ainda um tanto ‘fechados’ para as mulheres. Mito que secretárias sofriam assédio. Hoje, médicas, advogadas, motoristas, ruralistas, políticas, engenheiras metalúrgicas...

Para jovens, modernamente existe a oportunidade governamental do “primeiro emprego” - pessoalmente, não sei como funciona. Sou do tempo em que o moleque sonhava completar 14 anos para “virar homem”, ou seja, carregar marmita, no bolso “lenço e documento”, a carteira assinada, ter um dinheirinho ao final do mês para gastar aos sábados e ainda ajudava em casa, dinheirinho a menos no bolso... Emprego? Havia quem começasse como empacotador-entregador de minimercadinho, um passeio de bicicleta, um rápido chute numa bola a caminho, orgulho de quem cresceu, “meninos são os outros ali no campinho”... Havia quem começasse como aprendiz, instalados nas fábricas e oficinas, levados por pai, tio ou um vizinho. Acostumava cedo com a rudeza da vida. Comum empregado ouvir do chefe ou patrão: “Você tem um filho que.........” Qual o tipo de memória, suave ou rude, 25 a 30 anos depois? Hoje no Brasil 2 milhões de jovens trabalhando em situação irregular, seja sem treinamento algum, em atividade noturna ou em horário que impeçam freqüência à escola. Campanhas eleitorais excitam os jovens a sonhar. E a partir de janeiro de 2017???

HQ - DUSTIN, de Steve Kelley & Jeff Parker - 4 quadrinhos - Pai: “O que você está fazendo? Isso não é um site do governo?” Ele, notebook no colo: “É sim! Estou procurando um programa para reduzir minha dívida do empréstimo estudantil!” Pai: “Ah, na minha época isso se chamava trabalho!” Ele: “Eu tenho esperança de achar algo que ocupe menos tempo!” --- 4 quadrinhos - Agenciadora de emprego, idade madura, escrevendo: “Vamos botar seus pontos fortes!” Folgazão: “Ótimo!” Ela: “Eu já escrevi educado, simpático...” Ele: “Ótimo!” Encaram-se. Ele: “Eu tenho um potencial forte de liderança!” Ela, escrevendo: “Bela imaginação!” --- 4 quadrinhos - Agenciadora de emprego, idade madura: “Dustin, você chegou três horas atrasado no eu trabalho... Isso não tem desculpa!” Ele: “Você sabe que o horário de verão confunde a gente!” Ela: “Sei!” Ele: “Bem, o que me diz?” Ela: “O problema é que ainda estamos no inverno!” Ele: “Então estou adiantado!” --- 4 quadrinhos - Ela: “Kudlick, estou aqui com a sua demissão do departamento de carga do cais! Você ficou só quatro dias!” Ele: “Acho que eles se ofenderam na sexta-feira porque eu os chamei de doentes!” Ela, relatório na mão: “Interessante, porque de acordo com isto aqui você ligou dizendo... cansado de trabalhar lá!” --- 3 quadrinhos - Agenciadora: “Já de volta? Sério, Dustin?!” Ele abre porta e entra. Ela: Você aparece aqui tantas vezes que as pessoas do edifício já estão começando a falar, sabia? Se não pode segurar um emprego, encontre uma namorada firme!”

F I M