20. Demônios

Todos têm Demônios vivendo em seus olhos e eu não consigo encará-los; a visão dessas entidades é por demasiado profunda, fita minha alma, queima meu espírito, inquieta toda a minha existência.

Esses seres advindos das profundidades da maldade humana veem dentro de minha escuridão com uma perspicácia digna dos peixes abissais que habitam o mais recôndito leito do oceano – e isso me enfurece.

Minhas trevas fazem com que eles se sintam em casa, e logo desejam habitar em mim, todos eles, excitadores de discórdia, algozes da paz, carrascos da virtude – mas o que há nesses seres que tanto me intimida?

Seria aquela bondade dissimulada? Seria aquela potência excitante? Seria a forma como eles me veneram? E por que me veneram? Que maldições posso lhes oferecer que eles já não têm?

Não há trevas demais em mim?

Não há discórdia em demasia em meu espírito?

A paz já não me é rara?

A virtude que jaz em mim já não é macérrima?

O que querem de mim? O que querem em mim? Parem de me encarar! Parem! Esquivem essas órbitas reluzentes de trevas para longe de minha corruptível e curiosa alma – ela se sente irmã de todos vocês.