ENQUANTO HÁ TEMPO...
 
Ainda sob o efeito da tragédia com o air-bus da TAM no aeroporto de Congonhas, ocorrido às 18:51h do dia 17 de julho de 2007, assisti na TV a uma entrevista realizada com um jovem que havia perdido sua irmã nesse triste acontecimento.
Após feita a pergunta de praxe, ele saiu-se com outra pergunta à repórter que o entrevistava:
“Você tem irmã?”, e diante da resposta afirmativa, completou: “Então, hoje, quando você chegar em casa, dê um abraço nela e diga o quanto a ama”.
A reportagem praticamente ficou por aí, uma vez que não seria preciso dizer mais nada.
E o que me transmitiu essa entrevista com o jovem extremamente triste e deixando escapar um certo remorso em sua expressão e em suas palavras?
Muito, muito mesmo. Mas talvez o mais importante tenha sido entender que quando amamos alguém, em momento algum devemos deixar de transparecer esse amor. E por quê? Simples, bem simples. Porque jamais teremos a certeza de que veremos esse alguém novamente, e toda pendência que tivermos deixado nesse sentido irá nos amargurar e entristecer pelo resto da vida.
Nossa vida não é programável, não é sabida, não é feita de certezas absolutas. Não podemos pensar em deixar para depois o que deve ser feito de imediato, principalmente quando retrata nossa admiração e nosso amor.
Amigos, amantes, marido e mulher, irmãos, pais e filhos, todos discutem e brigam de vez em quando, é normal isso, pois ninguém é totalmente compatível com quem quer que seja. O relacionamento humano está longe de ser uma ciência exata, e ainda bem que é assim, pois é a incerteza que faz a vida ser tão bela e interessante.
O que temos que entender é que essas picuinhas advindas de discussões muitas vezes sem sentido, não podem e não devem influir em nossos sentimentos positivos e benéficos perante nosso próximo. E, mesmo que tenham sentido, não têm o direito de fazer com que deixemos de falar ou dirigir-nos às pessoas de nossa maior estima e consideração.
E, muitas vezes, opta-se por um jogo de braço insensível, um esperando que o outro ceda, pois cada um encontra em si a sua razão.
Já presenciei – e acredito que vocês também – muitos casos assim. Digo mais: também já experimentei essas sensações e afirmo que não são nada boas, nada positivas e nada construtivas. O que se ganha não é nada, comparado ao quanto se pode perder.
Recentemente escrevi um texto ao qual dei o nome de “Conceitos de Vida”, onde comento que geralmente se espera que algo grave aconteça na vida de cada um para que se promovam as mudanças tão necessárias. E a entrevista deste jovem veio a confirmar isso.
Se quem me lê assistiu à entrevista, acredito que fique mais fácil entender o que quero transmitir, pois, associada às palavras, fica também sua expressão triste e chorosa. Mesmo para quem não assistiu, entendo não ser difícil esse entendimento, pois nesses momentos o amor e o afeto se apoderam de nós da forma mais intensa possível.
Ninguém vai levar nada daqui a não ser a certeza de que aquilo que fez de bom sempre irá permanecer, mesmo após o fim da jornada.
Então, meus amigos, vamos esquecer esse nosso lado desinteressante, fútil e hostil, e procurar adequar-nos sempre àquilo que mais temos de bom: nossa imensa capacidade de gostar, de amar, de perdoar e de querer bem.
O jovem da entrevista ensinou e transmitiu a todos que o viram, muito mais do que pretendia e podia imaginar.

 
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