O RELATO DE FINADOS
O RELATO DE FINADOS
Friamente foi ao encontro desprovido
que estava do interior saudável
amargo nunca amável desejou
morrer no caminho entre a estrada
que levava ao destino das coisas
e as coisas que ficavam que iam
que sentia estarem perdidas
"dificil ser o mesmo até o fim"
depois desta ida nunca será o
verdadeiro que inciou o primeiro
passo no largo esquecimento
durante muito tempo não desejava abraços
corriqueiros de interesse
o momento das despedidas
foi intenso propenso a não ser
uma coisa séria foi então rápido
espaço de dias tranquilos
em que o fulano não tinha retrato
não existia mais de fato
a memória esquecia pensando
n'outra coisa a cada contato
precisava do outro diferente
vai encontrar todos iguais mortais
sentindo deveres perdidos
nunca fomos amigos
mas nesta hora somos parecidos
pensava não quero fazer-me
de um tolo dentro do teatro armado
podia enviar-lhes as flores
com vontades minhas escritas
abreviar meu nome e coisas a serem ditas
antecipar a força do meu corpo
e o simbolo todo que o fazia
repetir as lágrimas destes outros
parados que olham percebendo
que um dia estarão parados
também outros olhando quietos
fazendo de conta que rezam
porque o lugar é sagrado
toleram suas esquisitices
suas babaquices andando de preto
como algo neutro quem dera
fosse uma festa estarem vivos
continuando algum filme
que alguém deixou terminado sem fim
mas o começo se inscreve primeiro
e designa o acontecimento
como nascimento da memória morta
sobressai o fantasma carente
das histórias que teve
contando como foi tantos
anos perdendo os laços que tinha
decerto nem ouve o que falam
o que vou fazer lá embaixo
onde há vibrações perigosas
alucinações do medo que sente cheiro
do enredo de pavor do silêncio
das coisas deixadas sem amor
do incenso fumegando disfarces de luto
que a dor sentida está contida
na dor da partida que traz
diferente da paz inscrita na entrada
uma paz mentira coroada
com flores de plastico pra iludir
o tempo da lembrança
pelo menos alguns dias
a herança da saudade vingaria
feliz sem pedir um triz da sorte
de quem anda por cima
de quem amou a sina
e teve que vir ser um idiota
cumprindo rituais quase insanos
pelos prantos caídos precisando
tanto saber por que foi um dia
dormir para sempre...
...ele ficou no portão e vendeu suas
flores a quem passava
e a quem gostava mandou junto
sem que soubessem o recado
enrolado no caule disfarçado
de enfeite talvez ele aceite
que minha presença seria
a ausência do presente
reinaria de novo o mundo que dorme
neste sempre que engole
minha vida.
MÚSICA DE LEITURA: Lautmusik - Three Imaginary Boys