23. Escaravelhos

A solidão é o fermento de meu ser – acompanhado dela toda a minha substância se engrandece e se espatifa contra as paredes reflexivas de meu cômodo, que me isola dos ruídos insuportáveis, habitantes do mundo inferior.

Das imagens projetadas nas paredes retiro trechos de pensamentos que me agonizam, como se quisesse, com esse ato, despachá-los no ralo mais próximo, para longe de mim, mas minha intenção é continuamente frustrada por esses pensamentos-escaravelho que se apossam de minha carne e se recusam a capitular.

Existe uma carga mental que eu não consiga suportar?

É uma sina que eu pereça afogado em mim mesmo?

É a minha fortuna também a minha desgraça?

- Experimente o mundo inferior, sagaz homem – bramiu uma voz longínqua, enquanto a porta dessa prisão rangia, abrindo lentamente.

Tentado, segui meu rumo em direção à saída, mas algo me deteve sob a batente: por mais que eu tentasse fugir de mim, era por demais curioso e logo volveria – esse é o fado de todo filósofo.