Doces lembranças ... ainda!

Então...

Aos três anos já éramos amigas , as primeiras alunas de um colégio de freiras bastante conceituado. Ninguém cogitava colocar criança dessa idade na escola.

Ela é o meu arquivo vivo, de todas as etapas de minha vida.

As alegrias e tristezas, brincadeiras, estudo, trabalhos; éramos tão ligadas que a conversa não tinha fim. Imaginação não faltava no dia a dia.

Algo à dizer, pensar, traquinagem e transgressões. Confidentes aos dez anos , já silenciávamos o início das paixões. Segredos, bilhetes indo e voltando de apaixonados, escondido de nossos pais.

Namoros só por bilhetes e olhares, época em que só o sim bastava para selar um namoro.

Os pretendentes de bicicleta, passavam, largavam um olhar e um sorriso cúmplice de quem descobre o que é gostar. Namoro de criança, mas com o compromisso e dignidade de adulto.

Dores de barriga, segredo-bomba, que não dava conta de se manter por muito tempo. Com o risco de severo castigo, acabávamos

por meio de bilhete, para que a angústia e o medo cessassem, sem serem descobertas por nossos pais.

Tempos dos filmes de Romeu e Julieta, Aeroporto, Cauboys e Paixão de Cristo.

Procissões da noite Mariana com desfiles dos alunos, fugida para dançar no melhor clube da cidade ao som de Renato e seus Blue Caps, The Feveres, Cleiton e Cleydi, Roberto Carlos... Jovem Guarda.

Paqueras, namoros, amores proibidos. Por isso muitos naquela época fugiam para casar. Torcida para que o bem vencesse.

Ameaçando a nossa paz ventilava em nossos ouvidos , assuntos de reuniões comunista e Ditadura. Perseguição e proibição de músicas..."caminhando e cantando... vamos todos prá luta de lápis nas mãos"...; Cáliceeee! Aderindo à revolução, uma freira, professora de português ensinava a letra das músicas com pacto coletivo de sigilo, para não sofrer penalidade.

Enquanto isso...

Época de quadrilhas de São João com sanfoneiros, balões coloridos e arrasta pés, os ensaios durante o mês todo ninguém faltava; também os "assustados" que eram festas de última hora na casa de algum amigo.

Tudo tão puro e tão encantador. Romantismo no ar com sensação de prá sempre!

Amigos de fé, irmãos camaradas, confidentes que "cortavam jaca" e nos protegiam, sem maldade passávamos os dias. Crescendo em uma adolescência sadia, cercada dos trabalhos do colégio e afazeres de casa preenchiam nosso dia.

Éramos comprometidos com a vida, a palavra e o caráter se fazia. Todos sendo formados noite e dia para ser gente de bem, com respeito e ousadia. Tínhamos aulas de moral e cívica, arte, música, canto, esporte, grêmios e campanhas de solidariedade. Essas excediam a grade curricular formal do país.

Campeonatos de jogos estudantis, quermesse, desfile 07 de setembro e mês Mariano. Aprendíamos o Hino Nacional, do Estado e da cidade. Com

farda de gala, marchávamos como soldados, honrando nosso país.

Para enfim, ter só o que conquistasse e o que podia. Respeito e fidelidade, construção de valores, família era a honra!

Tempos idos, longe dos de hoje em dia.

Deste tempo ficou o caráter, os amigos e a beleza de que valores que cabem em qualquer momento da vida.

Mesmo já com marcas no corpo, este é o maior regalo, precioso, plantado e enraizado, que nos traz um sabor diferente de ter vencido o tempo, sem destruir o que nos ensinaram os mestres e nossos pais.

À eles toda honra, preservação de nossas histórias e vivências sadias.

Foi bom, porém é bom até agora, infância rica, de beleza e histórias, algumas pitorescas, vou ficando por aqui, por hora!

_________________________________kenia costa_____________

kenia costa
Enviado por kenia costa em 04/11/2016
Reeditado em 29/11/2016
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