Histórias da minha infância- Pão molhado no café com leite

Era sempre assim... a hora mais esperada do dia, o café da manhã, onde nem sempre havia o pão. Às vezes tínhamos macaxeira, outras, cará, e em várias o cuscuz de milho ralado na hora.

Minha infância tem cheiro de café torrado no fogão de lenha e pilado no pilão de madeira, socado com mão de pilão, ambos feitos pelo meu avô Elias.

O leite para misturar ao café saía diretamente da fonte, uma vaca malhada "holandesa "que abastecia toda a família. Chegava em garrafas de vidro, ainda morninho "in natura", puro, que após fervido, fazia uma nata que era disputada por várias crianças, entre elas, eu!

Em casa vivíamos em um grupo grande: meus pais, eu e minhas irmãs, meus primos,meus avós e de vem em quando algum "agregado". Sempre fomos hospitaleiros e sabedores que há espaço para todos quando o amor abre caminho!

Meu pai quando estava na cidade, trabalhava em uma padaria de um tio, e sempre quando voltava para casa trazia dois pães para nós, mas como éramos muitos, os pães compridos ( tipo os de rabanada) eram cortados por nossa mãe em partes iguais, ela passava uma leve camada de manteiga e nos ofertava com uma caneca de café com leite. Não havia como repetir a porção de pão, todos comíamos devagar, saboreando cada pedacinho.

Descobri que se colocasse o pão ( mesmo com a manteiga) dentro do café com leite ele "inchava", ficando bem maior ( aos meus olhos ("esgalamidos").

Criei o hábito de comer pão molhado no café, ficava mais gostoso...

e Minha mãe nunca me impediu de comer dessa forma.

A infância escorreu entre os dedos, e com a juventude, deixei-o hábito de saborear o pão dessa forma. Casei, tive minhas filhas, e uma delas começou a fazer do jeitinho que eu fazia... molhava o pão no café com leite, dizia que ficava mais saboroso ( e como eu sei que ficava). Eu só ria, confirmando que as coisas se repetem...

Tempo passou voando de novo. As filhas cresceram, duas já casaram, uma já é mãe ( por duas vezes) e eu hoje amanheci com saudade de comer pão mergulhado no café com leite.

Por que não?

Comprei o pão francês, passei manteiga e o mergulhei no café com leite.

Saboreei cada pedaço, limpando o café que teimava em cair no meu queixo não lembrava que acontecia isso, mas a cada pedaço que mastigava, as lembranças doces tomavam conta de mim.

De imediato resolvi escrever sobre essa saudade para registrar o que não quero que o tempo apague.

Hoje meus avós já se foram, meu pai também partiu, mas deixaram tantas histórias ... não quero que se percam, por isso registro e compartilho.

A memória da minha alma é quem sustenta o meu ser.

- [ ]