29. Meu Lado Fraco

São quantas as camadas de confusão que separam duas mentes? Certo dia, observei que o mundo sofre de um sério problema, percebi, nessa análise entorpecida, que entre duas mentes existem mares tormentosos de distância.

E quem ousa atravessar tais mares?

Qual é o prêmio para isso?

Dia e noite, sentado em minha pequena ilhota situada no meio de mim, observei tentativas das mais diversas de atravessarem meus mares – afogamentos, desistências, hesitações.

Dia e noite, escorado nessa palmeira putrificada, lancei minha parca luz em direção ao horizonte esperando, assustado, encontrar a marinheira audaz que seria capaz de driblar os mais afiados obstáculos para me encontrar aqui, sentado em minha pequena ilhota, situado no meio de mim.

São muitas as camadas, moça. São muitas as confusões. Diria eu à primeira visitante. Pois corra. Saia daqui. Não gaste sua preciosa juventude com uma alma tão velha quanto a minha.

E se a moça insistisse?

E se ela ousasse até mesmo vir a residir nessa ilha angustiante e instável?

Qual é a punição para isso?

Ao atravessar todas essas camadas, somente uma coisa poderá ser encontrada: o cerne de toda essa confusão. Pois, ao final de estratos e estratos de cebola, o que existe é mais cebola. Não há grande surpresa, moça, não há um ovo de ouro numa cesta de seda.

Há fraquezas, há tormentos, há angustia...

E como há...

E se, impávida, resistisse em vir compartilhar desse pequeno mundinho escuro, tudo que resta lhe perguntar... E se eu abrisse meu coração para você e te mostrasse Meu Lado Fraco, escuro, o que você faria?

- Já vai, moça? Pois faça uma boa viagem.