NOS MEUS VERSOS DE PELE
OS MEUS VERSOS DE PELE
É perfeitamente possível que a noite seja
aquela bela suspeição de juizo
conforme vão sendo cedo caindo
todos os meus grandes motivos
por que o amor não foi bem vindo
estava tranquila resguardada infantil
colhendo entre coisas antigas
algumas fotos alguns tipos de música
quem sabe a frase que eu queria
pudesse sair sem nenhum grito
a cara mal lavada da manhã de sonhos
acordando na manhã de pesadelos
olhando o outro travesseiro travesso
bem comportado do mesmo jeito
e o meu como que atirado ouvia-me
porque estava molhado estava perfumado
de tanto cigarro e bebida sozinha
as preferidas compradas com alegria
no mercado do lado onde o dono
é enrriquieto comigo e confuso
me olha desajeitado me atende como
se fosse tudo na volta entre os outros
algum tipo de absurdo deveria
eu estar ali solitária na sua vertigem
de amante ainda que velho demais
seria um rei pedindo minha mão
quando lhe alcanço o dinheiro
permite o respeito ser um doente objeto
que pegas de propósito pra pedir desculpas
e foi a luta por alcançar minhas mãos
ainda que ocupadas nas sacolas
escutei a vitrola do homem tocando
um música que incomoda qualquer mulher
estando ela no meio dos sonhos
ainda por final qual estou agora
olhando o travesseiro de novo
entretendo minhas pernas agora
que esfrego minha volúpia mal concluída
na raiva penso na vinda de ontem
que não veio ainda e me cerco de tédio
ele por acaso não é mais do que um
remédio além de vir servir
uma fissura de sentidos explodindo
depois sairia partindo
porque deixaria aberto todo espectro
transtornado das fibras esquecidas
uma mulher na frente do espelho
depois de todo esmero
ficando na vontade não olha mais pra si
foi o que aconteceu com as coisas
que eram vias construídas desde o convite
para amarmos em casa
do que num transe de bares invocados
de olhares querendo desejar-nos
faríamos a síntese dos amantes isolados
mas quem ficou desse jeito
fui somente eu deposta
e na amostra da imagem refletida
não via outra coisa que não
fosse alguém desunida do corpo
pela imagem categórica dos góticos
estava mesmo pálida insonsa
ainda por cima tonta desesperada
"minha roupa molhada não tinha
nenhum vestígio de água"
fiquei surpresa me achava na beleza
intrépida de sugar a fraqueza masculina
acabei comendo por meus dedos
acabei fantasiando o enredo
e meus últimos segredos serão
pecados íntimos de qualquer um
que vier acalmar-me das marés
que tornam chover nos meus versos
de pele...
MÚSICA DE LEITURA: Billie Holiday - Stormy Blues