DO FIM DA CERTEZA QUE VEIO
DO FIM DA CERTEZA QUE VEIO
Minha idade perdida minha sinfonia
predileta morria dentro do quarto
de luzes afogadas tentando salvar-se
cada superfície contava qual necessidade
se pudesse escolher seriam escadas
floridas prontas pra subir e desejar
ficar lá em cima do que a rima
que propõe entre todas alguma
que seja por mim a melhor a mais
resolvida que não tenha traços
da minha ignorância da idiotice
da plenitude do desembaraço
as do fracasso que convivem
querendo um carinho um afago
um medo pra sentir-se queridos
antes deveriam ir embora como tropeço
tropecei mas não engoli aquelas
sílabas da sinfonia que vinha
descarado misturando meu corpo
nos desejos contrários
eu desejava primeiro ser alguém
do que ter alguém pra gostar de sexo
o universo gozava na minha cara
como vagabunda das noites
entre os luares sombrios
onde ninguém percebe um humano
que caminha sendo usado
de vez em quando o amor que faz
está romântico perdoado
mas a coragem dos idolatras
é sempre a mesquinharia jogada
nas calçadas nas esquinas
por eles dobram espinhas cadavéricas
e mesmo sozinhas são miseráveis
velhacos do que "flores produzidas"
eu me sentia leve não minto
depois do quarto amargurando
tua saída rápida de amante
elogiava minha agonia de outono
despedaçada incompleta figurante
de arrasos malucos na cama
parecia que tudo interessava
as cortinas dançavam no mesmo
sabor que buscava nos beijos
num anseio de levar meus sonhos
ao realismo primordial das Deusas
eu pensei que podia ser avulsa
mas algo desprendia como folhas
na ventania do marasmo que descia
te vestia pra ir embora
não estamos amando
não despedia-se da mulher comida
de inteiros casos que tinha
não somos além do que isso
o que foi o começo termina
por aqui mesmo em fim
do fim da certeza que veio
no convite aceito eu também
aceitei o mesmo que ele
e agora vejo a estranha criatura
parecendo sair de mim
arrancando meus pedaços
deixando-me no cansaço
como beira marginal de estrada
cuspida de lance enfraquecida
no romance ergueu-me no alto
pude ver o coração saltear de medo
de apaixonar-me
poderia ter sido infinito
se acaso o maldito não fosse
um desconhecido ator de teatro
que veio buscar sua nova cena...
MÚSICA DE LEITURA: Chopin - Spring Waltz