A VIDA PASSOU
 

Pois é, a vida passou mesmo. Desde o dia 21 de outubro de 1949 faço parte deste mundo. Um mundo onde já não me sinto tão bem como antes. Um mundo onde me vejo cada vez mais excluído, certamente com o meu próprio consentimento. Um mundo onde acredito não fazer mais parte. Não, não pensem que estou cansado de viver. Não é isso. Amo a vida e procuro vivê-la em sua plenitude. Não me perguntem sobre o certo, o errado ou até a verdade, pois, após tantos anos vividos, ainda não os encontrei. Como bem diz Pondé, hoje vivemos a Era do Ressentimento: “Provavelmente, daqui a mil anos, não vão lembrar da nossa época como a época do ipad. Vão lembrar como a era do ressentimento. Somos uma civilização de mimados que não é capaz de escutar nenhuma crítica sem achar que é uma questão de ofensa pessoal. O que é o ressentimento? É você achar que todos deviam te amar mais do que amam, você achar que todos deviam reconhecer em você grandes valores que você não tem”.  E por aí seguem esses sentimentos mesquinhos e doentios de quem se dá uma importância além daquela que efetivamente tem. Então, meus amigos, tudo isso já me cansou. Não aguento mais tanto mimimi. Sei que tenho uma quantidade infindável de defeitos, sei que já magoei algumas pessoas – mesmo que não tenha sido consciente ou por vontade própria – e sei também que muitos esperaram de mim algo que nunca pude lhes dar. São os momentos e os caminhos, estes sempre com algumas bifurcações pela frente, onde jogamos com 50% de chances de acertar e 50% de errar. Sinto que em toda essa minha jornada mais acertei do que errei. Como um autêntico libriano, confesso que os momentos de decisão, para mim, foram e ainda são catastróficos. E depois de tantas escolhas certas e erradas, tantas aberturas e algumas desistências, me vejo agora nessa situação de desencanto, de exclusão e de difícil retorno. Hoje, mais do que nunca, o que me completa e me encanta verdadeiramente é a humildade, a simplicidade e a cooperação, três qualidades difíceis, mas que ainda podemos encontrar em certas gentes. Não me convidem para um hotel cinco estrelas, mas podem me convidar, sem susto, para uma pousadinha no meio do mato e em contato com a gente rural. Não me convidem para uma festa ou um jantar sofisticado repleto de etiquetas, mas me convidem, sem susto, para um bate papo num boteco, acompanhado de uma cachacinha, uma cerveja bem gelada e aqueles tira-gostos típicos de boteco (até aquele famoso  ovo cozido e com casca cor-de-rosa). Quero viver assim o tempo que me resta, curtindo as coisas boas, mas simples da vida, pois, afinal, como consta em SALMOS, 39:5-7 (Bíblia Hebraica), “Como uma sombra, passa o homem pela vida e fútil é sua luta fatigante; acumula riquezas, mas não sabe quem as recolherá”.
 
 
******