BAILE DE FORMATURA

O BAILE DE FORMATURA

Minha mãe sorriu perguntando se eu queria ajuda com o vestido, como nos tempos de menina.

“Claro mamãe, afinal são tantos botões de pérola que eu ficaria um dia só para abotoar.

O vestido era vermelho encarnado, com uma imensa fenda na perna direita. Meu pai olhou meio que desaprovando a ousadia do rasgo, contudo não falou nada. Agora eu era uma mulher feita e seguia a moda das revistas. De qualquer forma, falou que eu estava linda. Foi a segunda vez que ouvi meu pai tecer um elogio, sendo a primeira vez na minha crisma. Naquele tempo meu rosto estava cheio de cravos espinhas, o que me fazia me sentir um patinho feio mesmo estando com um vestido branco e simples.

Após a maquiagem feita por minha mãe, levantei-me e fui me ver no espelho grande lá do quarto dela. Realmente eu estava deslumbrante! Que aquele dia de encantamento não terminasse nunca.

Nós já tínhamos ensaiado tudo perfeitamente. O meu pai seria meu par na valsa e ele me confessou que aquela seria a segunda vez que dançaria. Já tinha tido uma noiva nos braços e olhou para minha mãe que desviou o olhar.

A entrada do baile me emocionou muito, ao som de um piano íamos sendo anunciadas como nos filmes antigos. Um vestido mais lindo que o outro, cores diversas bem definidas antes para ninguém ir com o mesmo tom ou modelo. De praxe os sapatos apertados e um aperto extra para mostrar as curvas. Éramos todas sorriso e encantamento!

Nesta noite meu papai querido não bebeu uma gota sequer, deve ter pensado nisso como presente de formatura. Quanto eu temia que algo desse errado naquela noite tão sonhada. Contudo, foi tudo perfeito: o discurso a valsa, e a comida.

O presente veio dobrado, ao ver que depois da minha dança, meus pais rodopiaram pelo salão mostrando a todos como sabiam o que estavam fazendo. Acho que o perfume de minha mãe embriagou meu pai de amor. Foi uma das poucas vezes em que os vi namorando em público.

Aquela noite foi somente de alegria do dever cumprido, mas também de despedidas. Restou a foto do grupo em estilo antigo, onde mostrava um grupo de mulheres prontas a conquistarem o mundo.

Eu queria estar dentre os grandes nomes de minha época, fazendo a diferença com o giz e o quadro negro. Faríamos um levante de pessoas pensantes e produtivas de um futuro melhor.

Pensava nisso enquanto voltávamos para casa, pensamento longe fervilhando.

Desta vez, papai alugou um táxi e isso foi uma grande declaração de amor. Um dia teríamos condução própria e muitos lugares maravilhosos para visitar.

Eu fui na frente do carro mesmo contrariando o taxista. Achei melhor deixar o casal namorando no escurinho do carro. Na verdade ver meus pais unidos foi o meu maior presente.

Obrigada Mãe Maria do céu!