A AGULHA

ALMA DAS COISAS-3

A AGULHA

Desde que nascemos em uma metalúrgica,ficamos na expectativa de sabermos em que lugar do Brasil iríamos viver. Fomos compradas por uma grande distribuidora que nos levaria para as diversas regiões do país.

Tive a sorte de vir para Minas Gerais, terra dos meus ancestrais. pois os metais que me compõe vieram das montanhas deste estado.

Em Minas fomos enviadas para várias cidades. Estávamos bem vestidas numa embalagem de papelão e embrulhadas em um lindo papel preto, brilhante. Fomos para uma cidade de nome Calambau e ficamos expostas em uma loja de tecidos e armarinhos.Enquanto estivemos lá ficamos sabendo de muitas coisas que ocorriam nesta cidade,pois antigamente os fregueses batiam longo papo com os balconistas das lojas.

Certo dia apareceram na loja uma avó e uma netinha. Depois que a avó efetuou as suas compras, a netinha disse-lhe:-Vovó, compra uma agulha e um carretel de linha para mim,pois quero aprender a pregar os botões e fazer umas roupinhas para as minhas bonecas.

A avó atendeu a solicitação da neta, e eu fui a agulha escolhida para ir morar com a Zilda, que era o seu nome.

A minha vida era muito boa. Quando executava os meus trabalhos,eu era sempre recolhida pela minha dona e guardada com muito capricho.Ela não me emprestava para ninguém.Certo dia um seu irmão, que morava em uma fazenda de nome Baía ,lá para os lados de Piranga,apareceu com um bicho no pé e foi logo pedir a irmã a agulha emprestada, para tirá-lo.

Quem disse que ela me emprestou? A minha agulha não irá tirar bicho nenhum, arranjem outra, gritou a neta.Fiquei muito contente...

E assim fui levando a minha vida trabalhando, brincando (quando fazia os vestidinhos das bonecas), e sabendo de tudo que ocorria na casa. A minha dona já estava com vinte anos e já tinha até um namorado de nome Agamenon. Depois de certo tempo fiquei sabendo que eles estavam noivos e que em breve iriam casar-se. Fiquei assustada, pois não sabia se a Zilda iria me levar para a sua nova casa.

Naquele lufa-lufa que antecede a um casamento, trabalhei muito, sempre solicitada a pregar um botão ou uma leve costura nas roupas.Pensava sempre:-queria assistir ao casamento de minha dona, mas desistia sempre da Idéia, por achá-la impossível.

Foi programada uma grande festa para o casamento, que teria a participação de muita gente.

No dia do casamento, quando o noiva estava prestes a sair para a Igreja, verificaram-se que um botão de seu vestido não estava bem pregado. Foram logo buscar-me para consertá-lo.Senti-me feliz, pois talvez aquele seria o último serviço que iria prestar à minha amiga Zilda. O impossível aconteceu:- Eu ia assistir ao casamento! Naquela pressa de consertar o vestido a costureira que estava presente, assim que pregou o botão deixou-me espetada próxima ao mesmo. A minha alegria era total.

Fomos para a Igreja, nunca vi tanta gente bonita e tão bem vestida! As músicas maravilhosas! A Igreja toda florida!

Tudo passou muito rapidamente. Agora era aguardar o retorno para casa...

Mas eis que de repente quando o noivo foi abraçar a noiva, a sua mão tocou em mim e o seu dedo foi fisgado. Olharam com atenção o local e me localizaram. Fui retirada do vestido e colocada em um canto de uma pilastra da Igreja. Lá fui esquecida. Fiquei pensando o que seria de mim...

Fiquei ali por uns cinco dias, até que certo dia, uma senhora entrou na igreja acompanhada de uma filhinha de cinco anos. Enquanto a mãe rezava a garotinha ficava andando ali por perto, olhando tudo.

Em dado momento ela disse para a sua mãe:- Mamãe, achei uma agulha! A mãe respondeu guarde-a, vamos levá-la para casa!

E agora espero que a minha nova vida seja um lar onde reina muita paz e alegria.

Murilo Vidigal Carneiro

Calambau, 28 de outubro de2016.

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 12/11/2016
Reeditado em 15/02/2018
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