Uma certa saudade.

Esta noite, permiti que uma saudade sem precedentes, fizesse morada em meu jardim, e sem pedir permissão abusou da hospitalidade que lhe foi concedida, pela simplicidade apresentada, no longínquo estado boêmio de um coração deformado pelo destino, sem a aprovação de um velho tempo. Outrora, enquanto os passos solitários faziam seu papel, levar um menino de calças curtas a descobertas permitidas aos amantes das improváveis tabernas da vida, meu instinto amante, transformava feridas incuráveis, em marcas que cauterizadas foram, porém, lançadas em um passado escondido e delatado pelo sangue que verteu em lágrimas eternizadas, nas imagens ocultadas sobre mentiras escritas nas esculturas de uma vida.

Como poderia impedir esta saudade, avassaladora e impertinente, apresentada em traços delineados pela simplicidade de uma brisa leve e sincera. Amiga se fez, e ousada atraiu meus desejos adormecidos, levando de meu horizonte o que jamais deveria ter sido apresentado. Sofrer, era parte de um sussurro adormecido, mas que diante de um olhar incompreendido, fui incapaz de negar o desejo, que esquecido foi, que jazia sem ter direito a uma nova oportunidade.

Saudade oprimida, retraída e sobrevivente de um passado presente, sem forma conhecida, louvada por não me levar ao oceano dos amaldiçoados. Até pensei que uma sombra viajante, estivesse retornado de seu descanso. Compreendi que tratava apenas do florir de uma nova primavera, com flores novas e um perfume que alucinava meus sentidos, que tratava de devolver a vida que havia sido roubada por uma saudade antiga. Uma nova saudade, um novo paradigma que se permeava pela incoerência do destino. Jurei pelo tempo e pelo passado, jamais retornar ao êxodo que um dia me excluiu. Não foi preciso, meus passos solitários, fizeram-me caminhar por caminhos conhecidos, mas jamais percorridos. Que estrada foi essa, que me fez conhecer uma nova saudade, que apareceu, marcou seu compasso e traçou um novo rumo.

Fechei meus olhos para abraçar esta saudade e entregar a premissa de minha devoção. Sonhei e naveguei por mares, que me entregava seus beijos e sua cumplicidade. Acordei e procurei em minha realidade a sua presença, subitamente não a encontrei, sei que está presente nessa estrada, no anoitecer do seu olhar, ou na aurora de seu sorriso. Sei que estás aqui, na flor que desabrocha e que florece, ou no orvalho que alimenta meu jardim. Sei que escondida está. Brincando na alegria de meu viver, ou pairando em meus deleites. Sofro de saudades, de uma saudade real e palpável. De uma saudade que fez-me sentir saudade, de um novo beijo, de um novo sentimento, de um novo consentimento. Desta saudade, que me faz sentir saudades de você.

Cristiano Stankus
Enviado por Cristiano Stankus em 13/11/2016
Reeditado em 01/01/2017
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