LAR DOS MENINOS
Era árdua e cansativa a missão de Rodolfo para criar sozinho cinco filhos, naquela cidade pequena no interior da Bahia. Dinorá, a ingrata, abandonou o marido e os filhos, fugindo com um cacheiro viajante. As crianças cujas idades variavam de três a onze anos, todos meninos, ficaram totalmente aos cuidados do pai. Agricultor que dá terra tirava o alimento da prole.
A situação difícil exigiu de Rodolfo escolhas, e foi assim pensando que ele decidiu que os dois meninos maiores cuidariam dos dois menores e com o filho do meio ele precisaria conversar, e assim o fez. Chamando o menino disse: Luiz, tu por teres nome de santo, irás morar com os religiosos.
O menino de sete anos, tremulo e com uma pequena maleta embarcou com o pai no ônibus, rumo a capital. Havia poucos passageiros, portanto, muitos lugares vagos, mas nada afastava o menino do pai, que agarrado a seu braço continha as lágrimas teimosas, que rolavam indo molhar seu casaquinho azul.
Era alto o prédio, onde seguiram por um longo corredor que levava-os até uma pequena saleta, onde aguardariam a chegada do diretor. Rodolfo senta-se em uma velha poltrona de madeira escura, Luiz treme e enfia-se entre as pernas abertas do pai, querendo ali permacer, trancar-se, unir-se a esse ser tão grande, cuja força ele acredita ser menor apenas que a do Cristo, que ele avista em um crucifixo na parede branca. O pai , nessa hora, não se reconhece um forte, esconde o choro e a dor, procurando convencer-se de estar fazendo a coisa certa. Rodolfo é tirado desses pensamentos quando adentra na sala um religioso vestido de preto, que embora transmita paz assusta o menino, que fecha os olhos quando o pai levanta-se para os cumprimentos, só os abrindo quando a sala já está vazia.
Chorando, Luiz sobe em uma cadeira de espaldar alto, abre a janelinha e avista ao longe a poeira que o ônibus vai deixando na estrada.... ônibus que vai levando o pai, que vai deixando o filho.. Chama em vão pelo pai, chora, e ofuscado pelas lágrimas não consegue ler a placa gravada na frente do pavilhão: ""Lar dos meninos São Luiz - Internato".