Tempo - reflexões de um fóssil

Entidade indiferente e inexorável, moeda dos homens, sentença das coisas. Em meus tempos de cristão me foi ensinado que o quarto mandamento, a guarda do sábado, era um estatuto perpétuo entre o criador e os homens, um tempo para contemplação e contato com o altíssimo. Pois que era necessário um dia inteiro para se dedicar a deus, como uma prova de amor. Isso porque segundo os ensinamentos, não existe uma maior e melhor prova de apreço por alguém que dedicar tempo. Os presentes mais caros, as palavras mais belas não tem significado sem o simples ato de se dedicar tempo aos que nos são caros.

O tempo, esse misterioso e impalpável ser que traz na mão a seta que apenas aponta para frente nos consome segundo a segundo, deixando para trás um imenso rastro de nada, como já diz o provérbio latino "cada badalada nos fere, a última nos mata". Ouvi uma vez um homem dizer que o passado não existe de fato, que o presente é tempo em suspenso que é a todo momento consumido por essa particula disforme e indefinível chamada futuro

O tempo oprime, o tempo cura, o tempo as vezes apenas passa, o tempo também mata, mas no fim o tempo sempre acaba. E no fim percebemos que o valor real de um homem está no que ele fez de seu tempo. Se amou intenso, se enriqueceu farta, se teve tempo de realizar seus intentos, enfim, se viveu bem seu tempo.

O que você faz com seu tempo? Estuda? Trabalha? Dedica aos seus?

Tenho hoje pra mim que o maior erro de um homem é perder tempo. Do auge de minhas febres loucas, das escuridões profundas dos meus momentos, vejo todos os anos de desperdício do tempo. Tudo porque não me disseram o valor que tem os bons momentos, amigos, família, bons trabalhos, afinco aos estudos, desfrutar a companhia de belas garotas, nada me foi ensinado como acredito que deveria ter sido. Vejo agora um pai passando com seu filho e sentado no banco da praça a alguns passos do meu banco o avô observa. Observo isso com a indiferença de quem passou a vida toda a margem dessas pequenas e profundamente importantes coisas. As vezes é estranho olhar pra trás e perceber quão poucos foram meus bons momentos, a maioria entre amigos e quase nenhum em família. Tenho lapsos e não memórias.

Para muitos o tempo se mostra como um caminho onde se realiza uma jornada, já eu me sinto como quem está em queda livre, as vezes, de maneira débil, ainda tento me agarrar, mas já hoje sou velho, e os braços não tem mais a força outrora. Por vezes desejo mais que tudo esse impacto, mas ele parece fugir de mim a todo momento.

Meu conselho? Não perca tempo, pois parado no tempo você fossiliza, se torna rocha, e logo não sente, não se move e em verdade não vive. Não, não perca tempo, gaste-o, dedique-o, viva-o. Pois em essência você só pode ser, aquilo que fez de seu tempo.