SEM TITULO

-Tarde do por do sol de ontem pus-me a ajuizar e filosofar sobre minha verdadeira condição. Nasci, eu, bastardo e esquecido pela desvairada da minha mãe, que ao me trazer, deixou-me ali mesmo na lama pútrida, impedido de ver a claridade do sol da tarde. Com os olhos recheados de lama, tornei-me um cego sem nunca ter visto outra imagem a não ser o interior do corpo da velha, tão terrível e sujo, dominado pelas teias e ratos. Tão assustador era o ponto que brotei semanas antes. Quando me tomei conta de ser um indivíduo, tão horrenda criatura me descobri, de pele supurada e pegajosa, de boca sem dentes nunca nascidos e nariz tão repleto de proeminências, que me tornei recluso nesta caverna. Tanta saudade do ventre da velha, que vivo aqui neste espaço tão parecido sem nunca querer ter germinado. E então, porque não nasci eu são e digno de vida? Ora, pois culpo o autor que me escreve. E assim também, o agradeço por me consentir tal pensamento e não conter o meu desprezo. Porém, mesmo de tal modo, o odeio. Julgo-lhe desgraçado, insolente, arrogante, um insensível sádico. Uma besta, que desperdiçou palavras com escrito tão estúpido. Faltou-lhe imaginação para melhores estórias. Tão cruel...

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Inexplicavelmente, o personagem dessa estória se matou.

(Lembrar: Nunca mais darei tanta liberdade aos meus personagens como dei a este).

Calor do cão
Enviado por Calor do cão em 28/07/2007
Reeditado em 28/07/2007
Código do texto: T582570