REPLETA

REPLETA

Um dia cansado vem deitar sobre

meu corpo ainda no sopro destinado

do corpo que agora sai de perto

e deixa um inverno querendo

estar a sós pra sempre

nem lembro se quer entendo

do tempo lá fora se o frio faz

do calor sentido um sentido mortal

que imortal sentido tem o amor

quando queima e teima querer

tudo que tenho e o que não tenho

ainda pensando estava sendo

roubada pelos sonhos dele agora

foi ao péssimo desespero iludir-me

as carícias subindo e descendo

querendo subir o que acaba

e tem aquele maldito tempo

que lá fora está correndo

cá dentro nem entendo

faz sofrer um pouco eu sei muito

eu sinto tanto que nada incomoda

ele está por fora do que sinto

eu não minto portanto o incômodo

começa criando vida

em pequenos arrepios de entrega

meus fios de cabelo deliram

quando permito o que ele tolera

estando dificil ele mergulha no

no meu desejo pra ser incrível

o arpejo deve ter notas falsas

nossas falas movimento de lábios

quando se aproximam não beijam

quase encostam de olhos fechados

não que sejam preferidos

sorver o rosto de liquidos

que efervescentes parecem raiva

de cães em luta logo que o sangue

vem pintar nossas veias

pulsando no coração mais forte

a sensação fica violenta

e conforme eu estava pensando

tudo se transforma e vai

direto ficando tudo quieto

ouvindo nosso barulho na cama

no escuro parece chama

tudo se acende e clama

pelo próximo fim quando em fim

por alguns minutos eu creio

posso levar em consideração

o cansaço e o embaraço

de tanta vontade num prazer que

foi ele quem atreveu-se outro dia

quando eu estava fértil

foi ele o escolhido

eu não quero outro dia

que seja pervertido

que seja por toda noite...

MÚSICA DE LEITURA: Billie Holiday - Stormy Blues