PRELÚDIO ato1

PRELÚDIO ato 1

Deixou um bocado de sonhos

calculados dentro da memória

agora a história conta tudo outra

vez que não foi desta vez

que ele veio morrer nos teus braços

estilhaços de vazio por dentro

perde o aroma doce do amor

por uma viagem aos horrores

de toda mesquinharia que contém

a memória da mulher criada

pra ser mulher de senhores

deste pequenas mulher de favores

desde sempre não tinha futuro

pensava que o futuro fosse

somente as gravuras que as fotos

tão belas quando mais jovem

quanto mais perdida eram

no colegio as diabruras não terminavam

se não num canto aos choramingos

esperando um amigo esperando

a esperança de encontrar alguém vivo

cantava pingos no chão caindo

teclas de piano solo de outono

sua blusa manchada de terra

saíra parecendo que prendia

sua respiração cada vez mais aguda

há quem visse também quem na tolice

do estranho a deixasse sofrendo

e vai lendo as gravuras malditas

nas folhas que abrindo

visitavam sua menina secreta

ela ainda ensina a esquecer tão fácil

tão acido aquele momento

quando saia do canto dançando

na frieza daqueles outros

desenhando invisível

brincadeiras que iam misturando

o descaso que sentia do caminho

até casa o que não era desastre

permitia continuar sendo

sentava pronta obedecida

somente por dentro estava plena

do que por fora enfurecida

queria nadar no vento sem direção

com a emoção de mitos

corromper a versão da vida

que nunca havia sido ela quem

havia querido quem a via

agora em pé bem vestida

coerente com a sala dos convidados

num sorriso que compra um teatro

não percebe que nem sua boca

seus lábios estão a falar por querer

desprendem coisas superfulas

coisas discretas pra entreter

o recanto dos prazeres sádicos

por que prazer de verdade

não tem pose nem ousa vestir

uma pele de raposa ainda sangrando

com os olhos molhados

acontecendo nas aberturas

daquelas cortinas voando

como mãos de "allegro" doce

chamando num solfejo de piano

olhos perdidos abanando palpebras

fronte branca de todos

nada mais via do que seus

partidos sonhos de amante

todos entrelinhas eram páginas

daquele porta-estrofe do diabo

que descobria ela da mulher num instante.

MÚSICA DE LEITURA: Frederic Chopin - Prelude No. 4