TECLADOS DE MADEIRA

TECLADOS DE MADEIRA

O que parece estranho

é um mundo vivendo junto

um conjunto de coisas

de lá bem profundo

onde não existo mais

faça o vento a diabrura

de trazer o aroma do lado de fora

prefiro entristecer a alma

deixe ela dormir tranquila

e quando alguém liga

não saberá de quem é

esta voz que fala docemente para que

quem sabe não ligue

nem ligue se estou de bem

com a vida ultimamente

ao que de repente surge uma

folha tão bem ainda

descolada dos arbustos altos

do prédio vizinho convida

não quero ir ver meu medo

de ser mentirosa comigo mesma

nem quero a surpresa do viavel

a surpresa acontecendo criando asas

e como ave me rapinando

descrevendo que la dentro

cá onde estou esteja sofrendo

por que quero porque não abro mão

faço força se quer pra pegar

de volta meu cigarro que vejo

aceso se esvaindo coeso

caem fagulhas indomadas

das coisas que penso

estou perdida acontecendo no cinzero

como espelho retroativo

disto que oferece outro nome

além da solidão de que preciso

da solidão que momento de prazer

do absoluto conclusivo do ser

quando não mais a alegria

vem dizer sobre o dia

e o sol que depois a lua

quem sabe ainda vem uma chuva

e tudo consola eu de camisola

na janela ouvindo águas

que derramam por nuvens

e minhas mágoas querendo

ser parente de algumas

daquelas gotas respingando no vidro

parecendo um sino do velho

que abusa do consolo de ser

vidente e sozinho

por que Deus quiz assim

não tenho estas cruzes caóticas

até tenho umas coisas góticas

pra vestir nas noites em que

o diabo vem ao corpo queimar

algumas destas "paciências"

que a feminina mutilada

ainda gritando por liberdade

querendo ser firme

sobre o chão endurecido dos séculos

dos milênios que um descênio

se quer pode dizer que estamos

muito bem obrigada

não estamos nada

ainda precisamos do convite

e do macho que aborda logo na porta

e o lado sexual aflorado impaciente

logo de repente acontece

e se permanece é consequência

consegui ter esta paciência agora

descobri-me senhora

de toda casa somente.

MÚSICA DE LEITURA: Jolie Holland - Old Fashioned Morphine